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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Participando de uma exumação...


Como ontem, passei o dia trabalhando sozinho.
Continuei organizando os procedimentos antigos.

Há alguns dias fiquei sabendo que haveria uma exumação.
Não sabia ao certo quando seria.

Pela manhã, fiquei sabendo que seria hoje às 13h30min.
Pedi para participar e auxiliar no procedimento.

Como policial, veremos todo tipo de situação, e, quanto mais preparado para cenas fortes estivermos, melhor.
E esse certamente seria um bom choque de realidade.

O sepultamento datava de quase um ano, mas, segundo quem entende, isso é relativo.
Durante o almoço, quase chegando na sobremesa, lembrei que o ato logo mais não recomendava que eu comesse feito um cavalo.

Mas aí já era tarde.
Cheguei a repensar minha ida.

Chegando a hora, estava eu lá, esperando.
Fomos em três colegas buscar dois técnicos, que ajudam os peritos.

Todas aquelas perguntas leigas inerentes ao procedimento foram feitas.
Todas respondidas, com direito a algumas historinhas para exemplificar.

Chegamos ao cemitério e esperamos o perito por alguns poucos minutos.
Nada começa sem ele chegar.

Após sua chegada, os funcionários do cemitério começaram a abrir o túmulo.
Uma expectativa pairava sobre o que eu iria ver e como iria reagir.

Já acompanhei necropsias no DML durante a Academia, mas hoje seria algo diferente.
Logo o caixão foi puxado para fora, intacto.

Mantive-me afastado cerca de oito metros.
Enquanto a tampa era desparafusada, o silêncio imperava.

Ouvia-se apenas o ringir do metal do parafuso contra a madeira do caixão.
E então a tampa foi aberta.

Não senti cheiro algum.
De onde eu estava, não conseguia enxergar nada muito bem.

Decidi me aproximar.
Logo vi o corpo, quase todo decomposto.

Não exalava cheiro ruim.
Sentia-se apenas um cheiro que parecia de umidade, de mofo.

As amostras foram colhidas.
Tudo foi fotografado.

Depois de tudo, caixão fechado e colocado em seu lugar.
E aquela pobre alma pode descansar novamente.

Como podem perceber, foi tudo muito natural.
Voltei para a Delegacia e segui trabalhando normalmente.

Confesso que a experiência no DML mexeu mais comigo.
Mostrou-me nossa insignificância e finitude.

Que não importa o que ou quem éramos, o que tínhamos, ou qualquer outra coisa.
Tudo acaba da mesma forma.

5 comentários:

  1. Parceiro,

    muito bom o seu blog!!

    Sou da Bahia e estou tentando concursos policiais,meu sonho é ser Delegado.
    Por enquanto para o cargo de agente só fiz o da PF, os estaduais ainda não cheguei a fazer.
    Apesar de agente ser o cargo que mais me agrada e saber que dinheiro não ser tudo, ainda axo muito pouco a remuneração recebida por esses guerreiros(uma pena!).E olha que não tenho pretensão nenhuma de ser rico.
    Alguns estados felizmente já estão reconhecendo isso e melhoraram os valores dos subsídios(como exemplo mato grosso e paraná).

    Parabéns ai pelo blog e ele já está salvo nos favoritos.hehe
    Uma dica...separe ai alguns casos e escreva um livro. Vc escreve bem e consegue entreter o leitor.

    abraços

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  2. Olá Luiz!
    Muito interessante este post. Situações que nos fazem refletir o quanto somos frágeis... grande conclusão: tudo acaba da mesma forma... cabe a nós fazermos o melhor de nós antes do fim.
    Como diz uma musica "sei que nasci, sei que vou morrer. o que está no meio disso é meu".
    um abraço e parabéns pelo blog!

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