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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Revendo os colegas


Essa semana foi bastante corrida.

Tentarei fazer um resumo dos últimos dias.

Na terça-feira, saímos às 06h em direção ao interior de outro município, para cumprimento de mandados de busca e apreensão.

Como a Delegacia de lá possui poucos agentes, fomos auxiliá-los.

Como eram dois endereços, fomos em duas equipes, cada um com quatro policiais.

Seguimos pela estrada de chão até os locais.

A primeira viatura chegou primeiro ao destino. Nós seguimos mais um pouco.

Quando chegamos ao local, percebemos que havia dois locais. Uma residência e uma espécie de bar (esses de interior mesmo).

Decidimos ir diretamente à casa.

Depois de devidamente cercada batemos na porta, chamando pelo nome do morador.

Nada.

Continuamos batendo nas portas, nas janelas, e nada.

Espiamos por uma fresta da janela, mas não havia movimentação de pessoas.

Dois colegas foram ate o bar e ficamos em dois na casa, caso aparecesse alguém.

Logo ouvi a colega falando para alguém sair da casa.

Entrei na triangulação da porta com a colega e logo o morador apareceu.

Procedida a revista, informamos sobre o cumprimento do mandado.

Realizamos as buscas e encontramos alguns objetos, que foram apreendidos.

Tudo terminado, pegamos o caminho de volta, mas decidimos chegar no endereço onde os outros colegas ainda estavam.

Fizemos bem.

Além de ter várias pessoas na casa, foram encontradas várias irregularidades.

Além dos objetos elencados no mandado de busca estarem ali (e não eram 
poucos), vários outros de procedência não suficientemente esclarecidas foram apreendidos.

Além de uma arma ter sido apreendida, ainda havia indícios de abigeato.

Acabamos ficando a manhã toda lá.

Semana passada eu havia recebido a informação de que, em virtude da morte do Michel Vieira, nossa turma de Acadepol seria convocada pela Chefia para uma conversa.

Não seriam convocados todos os formandos, apenas os colegas da turma 14.

Na segunda-feira, a notícia se confirmou através da convocação oficial.

Elaborei um ofício de apresentação de uma ordem de viagem, elementos indispensáveis em uma viagem a trabalho.

Qualquer imprevisto será amparado por estes documentos.

Na terça-feira de noite, Luana e eu embarcamos em direção a Porto Alegre.

Uma pequena viagem de quase oito horas até lá.

Deveríamos nos apresentar na Academia de Polícia às 13h30min, então, pela manhã, fui até o Departamento de Polícia do Interior (DPI), localizado no 
Palácio da Polícia, para ver o que deveria ser feito para ser ressarcido pelo gasto com passagens e se teria direito à diária.

Fui muito bem atendido e minhas dúvidas foram sanadas.

Tenho direito ao ressarcimento das passagens mediante à comprovação do gasto com elas e terei direito à diária assim que fizer um Relatório de Serviço e encaminhar ao DPI.

Combinamos com os colegas e fomos almoçar no mesmo lugar.

É muito bom rever os colegas de Academia depois de tanto tempo, pena que por um motivo trágico.

Falando nisso, a ida a Porto Alegre me deixou receoso.

Tentei ser o mais discreto possível, ainda mais com a arma.

Era um medo que havia passado enquanto eu estava no curso de formação, mas que havia voltado com força na quarta-feira.

No horário combinado, estávamos todos na Academia de Polícia.

O Chefe de Polícia, Delegado Ranolfo, primeiramente pediu que nos apresentássemos, dizendo nome e lotação.

Depois, referiu a preocupação com os fatos ocorridos nos últimos dias e mostrou-se solidário.

Referiu que sentia-se na obrigação de dirigir-se aos colegas do Michel para dizer que a Instituição, através de todos os setores que a compõe, estavam 
prontos a nos auxiliar em qualquer situação.

Conversamos um pouco sobre a necessidade e a previsão legal de andarmos sempre armados, mas preparados para essa responsabilidade.

Depois, conversamos em grupo com duas psicólogas do Serviço de Assistência Social (SAS).

É um setor da própria Instituição que também nos foi disponibilizado ainda na Academia de Polícia.

Depois de tudo terminado, ficamos conversando na frente Academia, enquanto os alunos do Curso de Formação para Delegado transitavam por ali de uniforme.

Logo, aproximou-se uma moça (cujo nome não lembro e peço desculpas) perguntando se meu nome era Luiz.

Respondi que sim e ela mencionou ser leitora assídua do Blog.

Logo, outra aluna aproximou-se para conversar e falar sobre o Blog.

Fiquei muito surpreso e feliz com a notícia.

Passei o resto do dia com os colegas e de noite embarquei de volta para São Borja.

Com duas noites dormindo dentro de um ônibus, não tive condições de trabalhar pela manhã.

À tarde, recebi a convocação para substituir um colega no Plantão amanhã.

Meus dias de folga pós-Plantão cairão no fim de semana e poderei usufruir apenas a segunda-feira de folga.

Mas “não dá nada”, afinal, estamos aí pra isso.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Aprendendo a lidar com as críticas.


Agora entendo quando diziam que ser policial é muito mais do que uma profissão, é um estilo de vida.

Agora entendo muita coisa que antes eu criticava e que agora me envergonho por isso.

Ser policial é muito mais do que tirar um expediente de oito horas diárias, quarenta semanais, ou um plantão de doze ou vinte e quatro horas.

Ser Policial é estar sempre a disposição.

Eu disse SEMPRE.

Se quiser entrar para a Polícia, acostume-se com isso.

Caso aconteça alguma coisa em seu horário de folga, você não poderá invocá-la para abster-se de agir.

Não importa se é um fim de semana, um horário de almoço, o aniversário do filho, ou a ida para casa depois de um exaustivo plantão de vinte e quatro horas com flagrantes e ocorrências invadindo a noite.

Você estará cansado. Exausto na verdade.

Uma noite em claro termina com qualquer um.

Ou o seu filho pequeno não te deixou dormir bem a noite.

Está pensando com como pagar todas as contas com o salário que recebe.

Seus problemas particulares e profissionais separados ou combinados, lhe perturbam a mente.

Pense em uma situação com todos esses fatores combinados ou até mesmo isoladamente.

Uma situação se apresenta de inopino e você é chamado a intervir.

É chamado a intervir diretamente, por instinto, por indignação, por obrigação ou outros tantos fatores que podem ocorrer numa hora dessas.

Nenhum dos fatores que lhe perturbavam lhe servirá de álibi.

Além da obrigação de agir, temos a obrigação de acertar. SEMPRE!

Não nos é permitido errar.

Aí, à situação apresentada não irá importar se você estava fora de forma, se estava desarmado, se estava cansado, se estava atento, se a ameaça era maior ou mais preparada que vocês.

Acredite, nada disso vai justificar uma decisão errada.

Decisão que deverá ser tomada em milésimos de segundo.

E mesmo que você não faça nada, que decida não intervir, ainda assim você será cobrado, você fará parte da cena, e poderá ser prejudicado, ferido ou morto.

Agir ou não agir em uma situação dessas, é uma decisão que caberá estritamente a você e a mais ninguém.

Mas saiba, que mesmo assim, você receberá críticas.

Leigos completos no assunto se sentirão no direito de dizer o que deveria ter sido feito ou não.

Dirão que você poderia ter feito de outra forma, que poderia ter sido mais rápido, que poderia ter se preparado mais.

Você será criticado quando acertar, quando errar, e quando se abstiver de fazer algo.

Quando estamos em desvantagem e acertamos, foi sorte.

Quando erramos, fomos precipitados, mal preparados, não usamos as técnicas, etc.

É como se não fôssemos humanos.

Os casos recentes exemplificam bem isso.

O Brigadiano que baleou um indivíduo dentro do Trensurb em Porto Alegre recebeu críticas por atirar em um local com grande concentração de pessoas.

O Policial Civil Michel Vieira, meu colega de Acadepol, foi criticado por reagir ao assalto que sofria.

O outro Brigadiano que foi baleado com a própria arma recebeu críticas pelo acontecido.

Depois do ocorrido, do conforto de suas poltronas, na frente da TV, todos sabem exatamente o que poderia ser feito.

Pessoas que não precisam nem conhecer as técnicas policiais ou o dia a dia policial pra dizer qual era a decisão correta.

E mesmo quando tudo der certo, virão outras pessoas dizer que poderia ter sido diferente.

Ainda tenho paciência pra explicar para as pessoas próximas que nem tudo é tão simples quanto parece, mas mesmo entre eles, percebo resistência em entender.

Quando vejo críticas de pessoas que não conheço, fico em um misto de indignação e revolta.

O texto do Humberto Trezzi, em minha humilde opinião, foi rebatido a altura pelo comandante do POE da Brigada Militar.

Mas nem sempre temos ferramentas suficientes para nos defendermos, ou alguém acha que a Zero Hora dará direito de resposta para tudo o que foi escrito?

E assim, essa é a verdade que fica.

E mesmo assim, nossa indignação não pode refletir no trabalho.

Temos de levantar a cabeça e continuar realizando tudo da melhor maneira possível.

Afinal, isso é ser POLÍCIA!

domingo, 27 de janeiro de 2013

A maior tragédia das nossas vidas

Esse fim de semana eu queria escrever sobre as mortes do meu colega de de um Policial Militar no Estado, sobre a repercussão que isso gera, sobre as opiniões de pessoas leigas no assunto.

Seria um misto de crítica e desabafo.

Eis que hoje, logo cedo, sou tomado de inopino com a notícia do terrível incidente em Santa Maria.

Não há o que falar sobre uma tragédia dessa monta.

Espero apenas a plena e profunda apuração dos fatos e responsabilização dos culpados.

Desde já, parabenizo o trabalho de todos os envolvidos no socorro e no atendimento às vítimas e seus familiares.

Fugindo um pouco do foco do Blog, gostaria de compartilhar com vocês um texto de Fabrício Carpinejar:


"A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS

Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.

... A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. 

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. 

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. 

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. 

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. 

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. 

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. 

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. 

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. 

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo? 

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista. 

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. 

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. 

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido".

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Resposta ao texto "O risco da valentia" de Humberto Trezzi

Tomei a liberdade de compartilhar o texto postado no Facebook pelo Movimento dos Aprovados da PCRS:
"Carta em resposta ao Sr Humberto Trezzi, da Zero Hora.

Sobre seu comentário em uma péssima hora. "O risco da valentia". Vou esclarecer lhe alguns pontos:

Não se trata de valentia, mas sim de uma vontade inabalável de cumprir o dever, prender o assassino, o ladrão e o traficante e, acredite ai de cima, não se sabe a hora de se deparar ( usamos farda ostensiva, não ficamos observando escondidos e nos equipamos de acordo com o que virá) e pode ser a qualquer instante.
A imensa maioria dos PMs anda em duplas, quando não sozinhos, atendendo estas mesmas ocorrências que podem contar com vários delinquentes e posso lhe garantir que recuo é sinônimo de tiro nas costas.
No caso do colega Policial Civil, se ele deixasse de reagir, provavelmente morreria com um tiro na nuca, como a Soldado Karina, morta ajoelhada dentro de um ônibus, fato tão questionado não pela sua morte, mas pela morte subsequente dos assassinos.
Apesar de alguns pensarem que somos de aço e infalíveis, podemos nos deparar com alguém mais forte, mais ágil e isso, meu caro, não constitui falha.

Pois bem, no momento que recebo a notícia da morte do meu amigo e colega, Marcelo Fogaça, o qual entramos como Soldados juntos há vinte anos, julgam seu ato, que foi destemido e com poucos recursos igualmente a todos esses anos, de "valentia". Isso me soa desrespeitoso, leviano e com um ar de arrogância superior, pois o Marcelo morreu por gente que nem conhece que viria a ser vítima desse lixo da sociedade protegido por políticos hipócritas e pseudo-intelectuais.

Mesmo com a morte do Marcelo Fogaça. lhe garanto, Sr. Humberto Trezzi, que continuaremos da mesma forma destemida e "de valentia" e sabe o porquê? Por que é assim mesmo, historicamente sem equipamentos, viaturas, efetivo, etc, mas com o risco da própria vida a sociedade, ainda que ingratamente, precisa de nosso sangue".

1º Tenente Renato Andrade

Comandante do Pelotão de Operações Especiais 11º BPM.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Deixou de SERVIR, mas continua a PROTEGER!

Texto escrito por Tiago Gomes*


Hoje, junto com vários colegas, passei por uma situação que não pretendia enfrentar tão cedo. 

O enterro de um colega. 

A perda de alguém que desfruta dos mesmos ideais, mesmos anseios e mesma motivação que eu, me fez pensar sobre a importância da profissão que escolhi.

A rotina da atividade policial faz com que acabemos, não raras vezes, nos esquecendo da importância da atenção e do cuidado quando estamos tanto trabalhando, quanto de folga.

Hoje, tenho certeza que muitos, assim como eu, pensaram no que deve ter acontecido para que o colega tenha tido a reação que teve. 

Nas nossas mentes recriou-se o cenário e muitos se imaginaram na mesma posição que ele ocupava quando do início da tragédia. 

Alguns pensaram talvez no mesmo comportamento, com um final diferente, outros em outro comportamento mas com o mesmo final; e até o mesmo comportamento com o mesmo final. 

Mas esses pensamentos não passam de pensamentos, imaginação, mas que a qualquer momento, podem tornar-se realidade.

Por isso, peço a todos cuidado e atenção, pois não desejo passar por essa situação tão cedo.

Por fim, deixo aqui a minha homenagem ao Michel, que nos acompanhou nesses 2 anos na busca pelo mesmo objetivo final, e que teve seu sonho interrompido por aquilo que nos dispomos a combater. 

Que ele agora deixe de nos SERVIR e passe exclusivamente a nos PROTEGER nessa nossa caminhada.





*Tiago Gomes é Inspetor de Polícia e está lotado na 2ª DHPP de Porto Alegre.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Perdendo um colega...


Ontem, durante a tarde, eu estava deitado em casa, recuperando-me de uma virose, quando recebi a notícia.
A Luana ligou com a voz embargada e me disse:

- Perdemos um colega...
- Com assim? Quem?  Perguntei.

- O Michel Vieira – continuou a Luana.
Nosso colega de turma da Acadepol, dois anos mais novo que eu.

Entrou na Academia por força de liminar judicial e, por conseqüente, havia assumido há apenas dez dias.
Apenas dez dias de trabalho na 3ª DHPP de Porto Alegre.

Embora não tivéssemos uma relação muito próxima, senti como se fosse comigo.
Um dia antes ele havia postado no facebook uma foto com o uniforme do DMLU, dizendo que estava indo varrer as ruas da cidade.

Logo pensei “Putz, ele não conseguiu entrar na Polícia Civil”.
No outro dia, fiquei sabendo que era apenas um disfarce.

Já estava trabalhando, investigando.
Ontem, logo após o meio dia, estava na lancheria da família, trabalhando com a mãe.

Dois indivíduos chegaram a anunciaram o assalto.
O que aconteceu a partir daí é mera especulação, mas provavelmente ele reagiu.

Talvez por já ter passado por isso anteriormente.
Talvez pelo ímpeto de reação que todo policial tem.

Talvez por precipitação.
Isso não importa agora, afinal, nunca saberemos.

O que fica é o resultado.
Ele e a mãe foram mortos. Um dos autores do roubo também morreu.

Com certeza fica o alerta para cada um de nós.
O sonho de ser polícia ficou para outro plano, para os que crêem nele, ou simplesmente acabou, para os que não crêem.

Toda a luta judicial, todo empenho na academia, foi ceifado por sete tiros.
Tiros disparados por alguém que não tinha os mesmo sonhos.

E cujos sonhos deverão ficar aprisionados por um bom tempo.
Em nosso íntimo, sabemos que será praticamente inevitável perdermos colegas, seja por causas naturais ou violentas.

O que não esperamos é perdê-los tão cedo, em tão pouco tempo e, ainda, de uma forma tão brutal.
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2013/01/mae-e-filho-policial-sao-mortos-a-tiros-em-porto-alegre-4018689.html

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O que me motiva


Quando decidi criar o Blog, antes de começar a trabalhar, pensava nas muitas histórias que teria pra contar.

No início, as coisas fluíam naturalmente, afinal, tudo era novidade.

Pensei em criar uma ferramenta que aproximasse a atuação policial de pessoas que não possuíam essa proximidade com a profissão.

Algo que desmistificasse algumas coisas.

Com o passar dos dias, tornou-se mais difícil continuar escrevendo.

Faltava motivação.

E por um mês eu cheguei a parar de escrever.

Continuava acessando para ver o número de visualizações.

Percebi que, mesmo parando de escrever, as pessoas continuavam acessando, continuavam comentando e, inclusive, perguntavam por mim, preocupados com minha ausência.

Essas coisas mostraram que as pessoas se importavam com o que eu escrevia e foi motivador.

Já tenho amigos virtuais, pessoas que comentam constantemente.
Cito alguns: o Jeolopes, o Fábio D., o Junior Silva, o Papa Charlie, a Vivi Lemos, o Marcus, o Alex, o Serginho Baiano, a Aline, a Lia Fonseca, o Rattes C, o Vicente, a Ana, o Bidias, o Baiano, o Caio, a própria Tanise Pes que contribui com postagens também, enfim, são muitas pessoas.

Cada um contribui de uma forma, motivando, elogiando, criticando, complementando informações, contando suas perspectivas com a profissão.

Hoje, recebi um grande relato de uma nova leitora, a Karen Pereira.

O simples fato de escrever tudo o que ela escreveu, me deixou lisonjeado.
Segue o texto:

“Meu maior sonho é ser delegada. Claro que não é um sonho desde criança. Foi uma coisa que nasceu e foi crescendo aos poucos em mim até chegar no estágio atual, onde praticamente tudo o que eu faço é visando atingir esse meu sonho de seguir essa carreira algum dia. 

É claro que, admirando tanto essa profissão que um dia desejo seguir, eu tentei conversar ou pelo menos tentar algum contato com policiais para tirar algumas dúvidas que eu tinha e para conhecer um pouco mais da rotina de trabalho e etc. Tudo pela internet, claro, porque pessoalmente não conheço nenhum.

Primeiro comecei a conversar com uma inspetora que trabalha no DEIC e é professora na ACADEPOL. Ela era cordial comigo, mas procurava deixar claro que não queria muita proximidade comigo. Entendi ela, a gente nem se conhecia direito e policial é desconfiado mesmo. Depois fiz amizade com duas delegadas (uma trabalha na DEAM de Passo Fundo e outra na DEAM daqui de Porto Alegre) num site pra pessoas que gostam de ler - skoob - e começamos a conversar. Faz tempo que não falo com as duas e o contato diminuiu ainda mais quando eu exclui meu facebook por conta dos estudos pro vestibular, mas a gente praticamente não falava da Polícia, e eu também procurava nem perguntar porque não queria que se repetisse o episódio da inspetora. Então deixei as coisas como estavam, mesmo na minha cabeça ainda tendo dúvidas sobre muitas coisas.

Hoje entrei aqui no orkut (coisa que nunca faço) e entrei na comunidade (coisa que faço menos ainda) e vi teu tópico. Poxa, nem sei o que dizer. Apenas gostaria de ressaltar o que muitos já disseram aqui: teus relatos são de extrema importância
, ainda mais para quem tem o sonho de seguir a carreira policial, como eu. Sei que a rotina de policial é complicada, sei como é puxado acordar de madrugada para as operações ou para o plantão, mas mesmo assim, peço que sempre que tu puderes, continue a relatar tuas experiências e esclarecendo alguns pontos da profissão em teu blog. É muito importante, tanto para quem tem o sonho de ser policial quanto para as demais pessoas terem uma outra visão da profissão. Tu não tem noção do que já ouvi de muita gente ao falar que queria trabalhar na Polícia... "ah, é muita corrupção", "tem mais bandido lá do que na vila" e outros absurdos que nem vale a pena comentar.

Enfim, eu sou nova ainda (17 anos), prestei meus primeiros vestibulares há pouquíssimo tempo - passei em Direito na PUCRS mas não pude me matricular porque não tinha condições de pagar a primeira mensalidade (quase R$ 1.400), prestei esse último vestibular da UFRGS mas acho que não passei por questão de míseros pontos (fui muito bem nas humanas mas péssima nas exatas e como Direito é concorrido pra caramba não adianta ir bem em tantas matérias e mal em outras) e com a média que eu fiz (usei o cálculo de média harmônica no site do Universitário) dava pra passar em vários outros cursos, mas o que quero mesmo é Direito. Me inscrevi no Prouni e só não conseguirei a vaga (pelo menos não em primeira chamada) por - acredite - 0.98 pontos de diferença com o último classificado.

Então, esse ano é estudar mais caso eu queria ingressar na faculdade de Direito e futuramente poder realizar meu sonho. Como eu disse, sou nova ainda, posso mudar de ideia, nunca se sabe o que vai acontecer amanhã, mas todo o esforço que tenho feito atualmente é visando realizar meu sonho e ler os relatos de um policial e ter a oportunidade de conhecer mais da profissão é muito motivador e me proporciona ainda mais estímulo em seguir em frente com meus objetivos.

Muito obrigada, mais uma vez, e que tu sejas extremamente exitoso em sua carreira. Sucesso!”

Finalizando, eu é quem agradeço a cada um de vocês.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Um suicídio no sobreaviso

Estou de sobreaviso essa semana.

Sabia que hoje teria, pelo menos, três presos em flagrante para conduzir até o presídio.
Quando chegamos na Delegacia, a colega desligava o telefone.

Havia sido comunicada sobre um possível suicídio.
Era a ocorrência mais grave que eu atenderia.

Nos expedientes normais não havia me deparado nada tão grave.
No sobreaviso então, nem se fala.

Fomos até o local, onde a polícia rodoviária federal já nos aguardava.
Eles foram comunicados primeiro, em virtude da proximidade.

Entramos no meio do mato e das árvores por uma trilha.
Havia um rapaz enforcado.

Ele utilizou um lençol para seu intento.
Não havia documentos com ele, nem na mochila, atirada perto dele.

Realizado o levantamento fotográfico.
Um radialista foi até o local para colher informações e divulgar ao vivo.

O local era afastado da cidade, não havia residências muito próximas.
Mesmo assim, várias pessoas aproximavam-se a pé, de bicicleta ou outros meios.

Traziam crianças como se fossem ao circo.
Aglomeravam-se aos poucos.

Se deixássemos, ficariam em cima do corpo.
Não entendo esse gosto pela desgraça alheia.

A necessidade que sentem em ficar o mais próximo possível, pelo maior tempo possível.
Tomamos todas as providências de praxe.

Logo ele foi identificado e a família comunicada.
Era aniversário da irmã dele.

Imaginem o sentimento da família.
A vítima já possuía problemas psicológicos e, provavelmente, isso tenha influenciado.

A remoção de corpos é feita através da ligação para um 0800, cuja central fica em Porto Alegre.
Eles comunicam a funerária responsável e liberam o código de remoção do corpo.

Depois de tudo resolvido no local, hora de ir para a Delegacia registrar ocorrência e fazer o relatório das diligências.
Foi tudo mais natural do que eu imaginava.

Não tive problemas em lidar com o caso.
Pior do que trabalhar com um caso assim, foi ver como as pessoas agem em casos assim.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ainda somos humanos.


Passei quase o dia todo na rua.
Cinco mandados de prisão para cumprir.

Alguns deles com mandado de busca e apreensão
Sobrou pouco tempo pra outras tarefas.

Mas mesmo assim ainda encontrei tempo para realizar uma oitiva, uma condução de presos, uma abordagem a indivíduos suspeitos para identificação e revista e ainda registrar ocorrência informando uma das prisões.
Dos cinco mandados, quatro prisões.

E algumas apreensões.
Logo no segundo mandado me deparo com uma casa com três
 crianças.

Uma menina muito esperta de uns três anos, um menino de um ano mais ou menos e outro menino envergonhado de uns quatro anos.
Fiquei do lado de fora da residência enquanto os colegas cumpriam o mandado.

A menina ria, envergonhada e curiosa com a nossa presença.
Logo, os colegas alcançaram uma faca e eu fiquei segurando.

“Vai levar essa faca?”, perguntou ela.
“Vou levar sim, depois eu devolvo”, respondi.

“E tu vai prender meu pai?”, continuou a menina.
“Não”, respondi novamente, sabendo que não poderia cumprir com o combinado.

Ela continuou brincando e logo largou mais uma:
“Tu é polícia?”

“Sim”, respondi.
Não me surpreendi que ela tivesse dúvidas, já que muitas pessoas maiores que ela me perguntam a mesma coisa.

Talvez pelo porte físico, talvez pela cara de guri.
Seja o que for, ainda causa dúvida nas pessoas a minha condição de policial.

Ele estava colaborando, então, combinamos de não algemá-lo na frente das crianças.
Mesmo assim, quando elas entenderam que o pai seria preso, um choro apagou os sorrisos e cortou a alma de quem estava no lugar.

É preciso ser muito insensível pra não sentir absolutamente nada em um momento desses.
Mas faz parte.

É preciso estar habituado a isso e não deixar que isso interfira no trabalho.
Logo depois, mais mandados deveriam ser cumpridos e a cabeça deve estar somente no que se está fazendo.

Não podemos nos dar ao luxo de ficar pensando em determinados problemas pessoais, que dirá dos outros.
Uma colega nova contou-me a difícil missão de conversar com uma criança vítima de abuso pelo padrasto.

Sentia um aperto no peito e desejava apenas que o relato acabasse logo.

Como se quisesse que aquilo que estava sendo contado fosse mentira.
Depois de tudo, sentia como se tivesse tomado uma surra, ante toda a tensão do momento.

Havia tempo que não trabalhava em um ambiente com crianças.
Estava me tornando, de certa forma, frio.

Agindo de forma técnica e mecânica.
Pelo menos, esses choques nos trazem de volta à realidade.

Nos lembra que ainda somos humanos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Finalizando procedimentos...


Fiquei isolado hoje.
Modo de falar, claro.

Concentrei-me na conclusão de procedimentos pendentes.
Mas mesmo assim, sempre aparecem outras coisas para serem feitas.

Não tem como planejar um dia de trabalho na polícia.
Não completamente.

Alguma coisa sairá do seu controle e terás que fazer algo que não era planejado.
Mas faz parte do trabalho.

E isso não significa que seja ruim.
Realizei algumas diligências externas sozinho.

Coisas simples, como ir atrás de vítimas para buscar alguma coisa que faltava para concluir os procedimentos.
Ao final da tarde, um lanchinho pago pela colega que estava de aniversário descontraiu o dia.

 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Um dia de sorrisos debochados.



A semana passou voando.

Cada vez mais trabalho.

O fato de cinco colegas de Seção estar de férias contribuiu.

No início da semana recebemos informação de que dois indivíduos de Porto 
Alegre estariam em um beco conhecido da cidade, consumindo e vendendo drogas com velhos conhecidos da polícia.

Decidimos ir até o local para identificá-los.

Fomos m quatro colegas, por garantia.

Próximo a esse beco, há uma esquina, onde há mercancia de drogas.

Sabemos disso.

Todo mundo sabe disso.

Mas, depois de muitas abordagens e prisões eles ficaram mais espertos.

Mas continuam por ali.

Quando a viatura discreta se aproximou, três indivíduos saíram um para cada direção, caminhando calmamente.

O beco iria esperar.

A abordagem tinha que ser feita.

Escolhemos um e fomos na sua direção.

Aprendi que devo esquecer o resto e cuidar as mãos.

Apenas as mãos.

Quando sentem que serão abordados eles simplesmente largam o que trazem e permanecem com uma passividade invejável.

Ele caminhava com as mãos fechadas, esbanjando tranquilidade.

Quando nos aproximamos mais e a viatura parou ao lado ao seu lado, percebi 
ele largar algo.

Falei para os colegas: ele largou!

Desci rapidamente da viatura a tempo de vê-lo largar mais alguma coisa.

Cheguei “em cima dele” e mandei mostrar as mãos.

A decepção.

Eram apenas pequenas sementes verdes de uma árvore conhecida.

Revistamos, mas ele não trazia nada com ele.

Liberamos e tivemos que vê-lo sair com um sorriso debochado no rosto.

Voltamos para o beco então.

Perguntamos para uma senhora dobre os indivíduos.

Segundo ela, um era seu filho, que teria vindo passar uns dias com a família ali.

Mas já havia voltado para Porto Alegre.

Quanto ao outro indivíduo, referiu não ter visto por ali.

Tudo esclarecido, meu colega pediu para que eu pegasse o nome de um outro rapaz que estava ali, só por garantia.

Quando me aproximei ele disse que não diria seu nome.

“Então vamos te levar pra Delegacia pra te identificar”, falei pra ele.

“Não sei por que”, ele disse.

“Ou tu me dá teu nome ou vai com nós até a Delegacia, tu escolhe” continuei.

E então ele me deu o nome.

E outra vez aparecia o sorriso debochado, mesmo que em outro rosto.

Não tinha nada de errado, apesar de várias passagens por posse de entorpecentes.

Quis apenas dar uma de malandro.

De qualquer forma, eu, que antes apenas observava e quase nunca falava nada nessas situações, consegui me impor de forma que ele respeitasse o meu trabalho.

A roda gira e vamos ver quem vair rir de quem.