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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Reações policiais - Vídeos

Ante à falta de assunto, resolvi pesquisar alguns vídeos contendo reações de policiais.

É interessante observar cada detalhe.
Não há um modo específico para reagir.

Vocês mesmo poderão perceber que as mais diversas situações poderão se apresentar.
Frieza, calma e técnica podem fazer toda a diferença.

 
Alguns vídeos:
 

Aproveitou a distração do assaltante e foi elemento surpresa.
Não vi excessos, efetuou apenas o disparo necessário para conter a ameaça iminente.

Assaltante ferido, sem presença de perigo, arma apontada para baixo, dedo fora do gatilho, enquanto espera socorro.
http://www.youtube.com/watch?v=bJuM02KL-kY

                                                    .....
O policial deu um tiro certeiro no assaltante, mesmo no meio de um monte de pessoas.

Alguns podem questionar esse fato, mas deu certo.
Talvez ele fosse preparado o bastante e sentiu-se seguro para reagir diante da situação.


                                                     .....

Assaltante entra em luta corporal com a vítima e dificulta o trabalho do policial.
Não querendo, claro, acertar a vítima, o policial demora um pouco a atirar.

É nesse momento, em milésimos de segundo, com a adrenalina a flor da pele, que devemos tomar uma decisão.


                                                     .....

Pelo que pude perceber, o assaltante chega, mostra a arma e diz alguma coisa.
Policial mantém extrema calma enquanto o assaltante espera, provavelmente, para pegar consumar o roubo.

Policial espera o momento certo, aproveita a distração do assaltante e saca a arma.


                                                     .....

Mas mesmo esperando o momento certo, a reação pode dar errada, por um motivo ou outro.
Neste caso, o policial parece se desequilibrar ou talvez a arma tenha falhado, não sei.

Chegou perto demais, talvez.
O fato é que perdeu o elemento surpresa e o assaltante conseguiu revidar.


                                                     .....

Esse foi um dos mais complicados que eu encontrei.
É o legítimo em que não sabemos o que poderia ser feito ou não.
Se ele não reage, pode ser descoberto e morto, já que um assaltante veio direto nele.

Ele escolheu reagir, mesmo diante das adversidades.
Entrou em luta corporal e, mesmo sendo aparentemente maior que o assaltante, não conseguiu dominá-lo.


                                                     .....

Um dos mais chocantes.
Lembro de ter visto na Academia de Polícia.

Policiais abordam um indivíduo em um relojoaria.
Eles não percebem que o outro homem, de camiseta clara, também é um assaltante.

Como a situação está tranqüila, os dois policiais concentram atenção no homem abordado.
O assaltante que está sozinho, apenas espera o melhor momento para sacar a arma e descarregar nos dois policiais.

E ainda consegue livrar a cara do parceiro.


                                                     .....

Analisem bem os vídeos e tirem suas próprias conclusões.
Fiz uma análise bem superficial de cada um e posso ter me equivocado em alguma colocação.

Fiquem a vontade para fazer as correções que entenderam necessárias.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Organizando a bagunça

Não parei hoje.

Entre uma atividade e outra, aproveitei para organizar o cartório.
Com o aumento no volume de serviço as coisas acabam acumulando.

A mesa vai ficando mais cheia de coisas.
Se não houver organização logo que a bagunça começa, não há mais controle depois.

São muitos documentos a serem juntados, ocorrências vinculadas à outras que também precisam ser juntadas.

Hoje, me dei ao luxo de contar o número de ocorrências que chegaram ao nosso cartório na última semana: Cinquenta!

Semana passada: Quarenta!

Junta-se a isso o fato de já estarmos trabalhando em ocorrências passadas e pronto, fico apavorado.

Claro que, mesmo que tivéssemos tempo e gente, nem todas são passíveis de levantar a autoria.

Mesmo assim, o volume de trabalho é assustador!

De manhã fizemos levantamento em um local de furto no interior, fomos buscar uma viatura na oficina, entre outras coisas.
De tarde, alguns atendimentos e mais organização.

Quase na hora de sair, uma oitiva necessitava ser feita e não poderia esperar.
Acabei ficando meia hora além do fim do expediente.

Foi mais rápido do que eu esperava, afinal, geralmente demoro realizando oitivas, tento tirar todos os detalhes.
Amanhã tem mais.

Esses russos...


Andei lendo uns jornais russos.
Eu manjo um pouco de russo, embora não entenda os russos em si.

Vi uma notícia de deixar qualquer um, russo ou não, de cabelo em pé.
O fato é que existe um circo na Rússia há muito tempo.

Há algumas décadas esse circo não atraía mais platéia, estava sucateado e a população quase desconhecia sua existência.
No entanto, de uns anos para cá, o circo voltou com força, com novos espetáculos, novos artistas, novos malabares, enfim, disposto a dar a volta por cima e recuperar o prestigio perdido.

Muitas vezes as pessoas nem precisavam ir ao circo. O circo ia até as pessoas.
Isso o diferenciava dos demais.

Os espetáculos ganharam a mídia e a população ovacionava cada vez mais o circo.
Novos artistas começaram a fazer parte dos espetáculos.

Tudo ia muito bem.
Até que um dia, um dos diretores do circo cometeu uma falta gravíssima.

Pra essa falta, infelizmente, não há tradução para o português. Logo, não sei exatamente o que foi.
A Rússia, comunista que é, resolveu punir exemplarmente o diretor.

As pessoas se perguntavam os que os sócios, donos do circo, fariam com o diretor.
E eles decidiram mantê-lo no espetáculo.

A Rússia não tem jeito mesmo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Atribuição Estadual ou Federal?

Logo cedo fomos chamados pelo plantonista para fazer levantamento em um local com evento morte.

Um acidente de trabalho na construção do novo prédio da Universidade Federal UNIPAMPA ceifou a vida de um operário.
A vítima não estava no local, pois chegou a ser socorrida e levada ao hospital, mas não resistiu.

Como o incidente ocorreu enquanto trabalhavam descarregando um caminhão, a Autoridade Policial determinou a apreensão do veículo para perícia.
Enquanto esperávamos o guincho, responsáveis pela administração do campus perguntaram sobre nossa atribuição no caso, já que a área era federal.

Confesso que, em um primeiro momento, também cogitei não ser nossa atribuição.
Eu mesmo já redigi relatórios sugerindo ao Delegado a remessa de um Inquérito Policial para a Polícia Federal, em função da atribuição.

Minha dúvida foi prontamente sanada pelos colegas mais velhos, que explicaram que em eventos com morte, por exemplo, é, sim, responsabilidade da Polícia Civil fazer o levantamento do local.
Caso, posteriormente, seja verificada a atribuição da Justiça Federal, o feito é remetido no estado em que se encontra.

Em outros casos, é fornecida uma cópia do procedimento.
Ficamos quase toda a manhã no local.

Durante a tarde, realizamos diligências na rua.
Pra finalizar, uma reunião com todos os agentes e delegados para ajustar e padronizar procedimentos.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A culpa é de quem?


Hoje, logo cedo, deparei-me com a seguinte notícia:

“Homem é morto ao tentar assaltar policial civil em Getúlio Vargas”.

(http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2013/02/homem-e-morto-ao-tentar-assaltar-policial-civil-em-getulio-vargas-4049260.html)

Logo pensei no colegas de Acadepol, mas não lembrava se algum havia ficado lotado em Getúlio Vargas.

De qualquer forma, mesmo que fosse um desconhecido, pensei em como está ficando freqüente esse tipo de notícia.

As vezes com boas, as vezes com más notícias.

Mas mesmo que a notícia seja a de que um criminoso foi morto, nunca é bom ler esse tipo de acontecimento.

Agora, durante a noite, fico sabendo que um dos policiais foi meu colega de turma de Acadepol.

Felizmente, ele e o outro colega estão bem.

Preocupa-me o fato de a criminalidade estar crescente também em São Borja.

Nesse início de ano, velhos delitos, até então escassos, estão voltando com força.

Roubos e furtos de veículos, roubos a pedestres e estabelecimentos comerciais, tráfico, furtos a residência, etc.

Em contraponto ao aumento de delitos, o número de presos em regime fechado nunca foi tão baixo.

Antes, com lotação sempre acima de 200 detentos.

Atualmente, esse número é pouco maior que100.

Talvez isso explique os acontecimentos narrados acima.

É sabido que alguns indivíduos simplesmente vivem o crime.

Nada, absolutamente nada, fará com que deixem o crime enquanto viverem.

O que geralmente acontece, em caso de uma repressão maior, é uma migração de um delito para outro.

Hoje, uma das audiências relativas à maior operação da Polícia Civil no Estado, e que aconteceu aqui em São Borja, foi adiada para 2014.

Sim, 2014.

A operação ocorreu em março do ano passado, envolveu mais de 600 policiais, prendeu quase 100 pessoas e resultou em inquéritos gigantescos. (Um pouco mais sobre a operação aqui: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2012/03/trafico-em-sao-borja-era-comandado-por-familias-3711657.html)

Aí, uma operação que durou dois anos e extirpou grande parte dos traficantes da cidade, mostra-se ineficaz, já que, até onde sei, todos os denunciados estão respondendo em liberdade.

Um café para quem acertar o que eles estão fazendo atualmente...

Todo trabalho policial, até o momento, foi em vão.

Em liberdade, tais indivíduos voltarão a traficar e os outros delitos continuarão a aumentar.

De quem é a culpa? Não sei.

Mas sei de quem não é: da sociedade!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O choro durante o depoimento


Logo cedo fomos para o interior, cumprir um mandado de busca e apreensão.
Fomos em quatro policiais, mas todos na mesma viatura.

O dia anterior foi chuvoso, deixando muito barro nas estradas do interior.
Pra piorar, muitas porteiras para abrir durante o percurso.

Na ida, não abri nenhuma. Na volta, todas.
Mas foi por vontade própria.

A hierarquia ou a antiguidade não foram utilizadas.
Revistamos a casa, os colegas olharam no meio do mato, mas não encontramos o que buscávamos.

Quando voltamos para a Delegacia uma oitiva esperava para ser feita.
Um menor foi apreendido com uma considerável quantidade de drogas na madrugada.

Ele aguardava com a mãe.
A indignação dela só não era maior que a minha, de ver um guri tão novo andando sozinho de noite e envolvendo-se com o tráfico.

Aconselhei, tentei abrir-lhe os olhos, embora saiba que isso é indiferente para alguns.
Disse com seriedade e calma o que achei que precisava ser dito.

Não fui estúpido, não fui mal educado, não dei lição de moral.
Apenas relatei o que o espera se não resolver sair logo desse mundo.

Vi sinceridade nas lágrimas dele.
Se ele vai seguir os conselhos ou não, é outra história.

Durante a tarde, realizamos algumas diligências na rua.
Uma delas foi o levantamento de um local de crime onde havia ocorrido um duplo homicídio tentado no carnaval.

Procuramos sinais e resquícios dos projéteis por todos os lados.
Imaginava ser mais fácil.

Mesmo com a notícia de muitos disparos realizados, fui muito difícil encontrar evidências.
No meio da tarde, o setor de pagamento, de Porto Alegre, me telefonou.

Segundo eles, havia problemas para pagar minha ajuda de custo.
A ajuda de custo é devida quando o servidor é transferido contra a sua vontade, desde que essa remoção não seja em função de alguma falta.

Quando a remoção é a pedido, não é devida a ajuda de custo.
Teoricamente, ela serve para que o servidor público instale-se na nova cidade e arque com as despesas oriundas da remoção.

Na prática, ela vem muito depois da transferência.
Tanto é que estou trabalhando há cinco meses e ainda não recebi.

Por algum motivo, meus documentos para cadastro no sistema FPE não deram certo.
Esse sistema serve para o recebimento de diárias, também, por exemplo.

Acho que amanhã resolvo tudo isso, encaminhando por e-mail todos os documentos.
 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Teoria das janelas partidas


Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia.

Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.

Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito.

 
Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e da esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.

O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre.

Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?

Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.

Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como o "vale tudo". Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores.

Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.

Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.

Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor a criminalidade) , estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.

A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: graffitis deteriorando o lugar, sujeira das estacões, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.

Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'.

A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.

A expressão 'Tolerância Zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de fato, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero.

Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.

Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na vila ou condominio onde vivemos, não só em cidades grandes.

A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.

Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.

Pense nisso!


(Via Edith Agnes Schultz)

Extraído de: 
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=309940012442056&set=a.261376240631767.39903.261004177335640&type=1&theater

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O desabafo do policial baleado



Passados 45 dias de uma das maiores ações criminosas da história do Estado, em que três assaltantes foram mortos e nenhum refém restou ferido após a explosão de uma fábrica de jóias, o único policial militar baleado com gravidade na madrugada de 30 de dezembro, em Cotiporã, vive momentos de angústia. 

O servidor público que protegeu uma família de agricultores e tirou de circulação bandidos que usavam explosivos para roubar bancos, pedágios e empresas vê golpeado, pela primeira vez em 15 anos, o orgulho de vestir a farda da Brigada Militar. Entre os mortos, estava o então foragido número 1 do RS, Elizandro Rodrigo Falcão, 31 anos. 

Além do movimento em uma das mãos, o PM de 41 anos, casado e pai de um menino de seis anos, perdeu o vale-alimentação, as horas extras e a gratificação salarial que dobravam seu salário. Além disso, admite que a curto prazo não receberá a promoção anunciada pelo governador Tarso Genro.

A promoção, que tramita na Subcomissão de Avaliação e Mérito de Praças da BM, só ocorrerá quando o soldado for considerado inocente no inquérito aberto pela BM para verificar se os policiais não se excederam no confronto com os assaltantes. O PM também precisará ser inocentado na ação civil pública que tramita na Justiça comum. A seguir, entrevista concedida por ele ao jornal Pioneiro.

Entrevista: Policial baleado

"Eu poderia nem estar mais aqui"

Pioneiro — Como vocês estavam armados? E os bandidos?
Policial — Eles estavam com fuzil, pistola e quatro ou cinco armas curtas. Nós tínhamos três fuzis.

Pioneiro — Em que momento o senhor foi baleado?
Policial — Quando eu me protegi atrás da viatura para recarregar a pistola. Levei dois tiros na perna e o meu colega levou estilhaços na canela. Quando sobrou só um bandido (o criminoso achado no mato uma semana depois), ele fez um cordão de reféns para evitar que a gente atirasse nele. Quando eu mandei os reféns se abaixarem, ele atirou no meu braço. Eu tentava negociar a saída dele ou a nossa. No começo, ele queria que nós pegássemos a viatura e fôssemos embora. Depois, tentou negociar para que ele fosse embora. Quando os colegas falaram que não tinha chance, ele fugiu para o mato.

Pioneiro — Você foi logo atendido?
Policial — Não, demorou. Eu estava perdendo sangue, com o braço quebrado.

Pioneiro — Você sofreu algum impacto emocional?
Policial — Todos que estavam envolvidos têm experiência. Não teve nenhum tipo de sequela psicológica.

Pioneiro — O que mudou na sua vida profissional?
Policial — A Brigada está me dando a assistência que preciso. Passei por duas cirurgias, fiquei 17 dias no hospital sem qualquer custo. Mas agora estou afastado, a princípio por seis meses, para recuperação dos movimentos da mão.

Pioneiro — Qual era seu salário antes e quanto recebe agora?
Policial — Nós perdemos parte do sálario quando somos afastados. Perdi a gratificação que ganhava como sargento (embora seja soldado). É complicado perder parte do salário. Quando mais você precisa, o salário é retirado. Mas faz parte do regulamento. Tenho 15 anos na BM, e sempre foi assim.

Pioneiro — Qual sua renda?
Policial — Eu estava recebendo em média R$ 3 mil. Agora recebo em torno de R$ 1,7 mil. O problema é que as contas não param. Só com aluguel nós gastamos R$ 500. Por enquanto, estamos conseguindo encaixar dentro da renda. Não está faltando nada.

Pioneiro — O governador Tarso Genro anunciou, quando visitou Cotiporã, que pediria a promoção dos policiais que atuaram no confronto. Se promovido, o senhor passará de soldado para...
Policial — Nós arriscamos a nossa vida, eu poderia nem estar mais aqui, então seria uma valorização ao policial militar. Eu passaria para segundo-sargento.

Pioneiro — Quando o senhor volta ao serviço?
Policial — A minha expectativa era que fosse o mais rápido possível, mas vai demorar um pouco, pois é preciso que o inquérito aberto para ver se agimos corretamente seja arquivado. Essa demora, financeiramente, acabará me prejudicando.

Pioneiro — E o futuro?
Policial — O meu objetivo é recuperar o movimento da mão. Minha mãe pede que eu saia da Brigada e consiga outro emprego. Mas, depois de passar 15 anos na Brigada, é complicado abandonar tudo.

PM tem perdas salariais

Mesmo que as reduções na folha de pagamento de um policial militar ferido constem no estatuto, a Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar as considera arbitrárias.

Além de perder horas extras e bonificações, o soldado ferido também fica sem direito ao vale-alimentação durante o período de afastamento. Outra luta da entidade é pela garantia de apoio psicológico, não oferecido aos servidores:

— O regulamento é ultrapassado. Temos muitos soldados dispensados por não terem condições de atuar nas ruas, mas que poderiam desempenhar atividades administrativas. Neste caso, o soldado é mutilado psicologicamente porque, para a Brigada, se tu não podes atuar fora, é um inútil — diz o presidente da associação, Leonel Lucas.

Na primeira quinzena de janeiro, o governador Tarso Genro solicitou que fosse aberto processo de promoção dos quatro brigadianos que confrontaram em Cotiporã.

— Após a tramitação do processo criminal que corre na Justiça comum, ele seguirá para deliberação de um colegiado formado por oficiais da BM. Mas, caso haja alguma denúncia por parte do Ministério Público ou de outra parte do processo, ele poderá se arrastar por mais tempo — reconhece o comandante da Subcomissão de Avaliação e Mérito de Praças, capitão Márcio Soares Lopes.
Caso seja considerado inválido para o trabalho, o soldado de Cotiporã receberá um seguro de R$ 25 mil. No restante do país, a média é de R$ 150 mil.


Texto extraído do Jornal Zero Hora:
 http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2013/02/o-desabafo-do-policial-baleado-4046622.html