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terça-feira, 26 de março de 2013

Dias passando rapidamente


A investigação é interessante.
Tem dias em que as coisas não “engrenam”.

Por mais que corramos atrás, não conseguimos levantar muitas coisas.
Outros dias, tudo flui naturalmente.

Algumas coisas acabam “caindo no nosso colo”.
Durante a tarde, ouvimos uma vítima de roubo e ela nos passou muitas características do autor.

Mostramos fotos, mas a vítima não reconheceu nenhuma.
Andamos pelas proximidades do local, mas não vimos ninguém com aquelas características.

Vimos imagens de câmeras de segurança, mas também não o reconhecemos.
Seguimos, então, fazendo outras tarefas.

No meio da tarde, auxiliamos na realização de um auto de reconhecimento pessoal relativo a outro roubo, com o autor preso em flagrante.
Como havia mais dois presos, totalizando três, foi preciso apenas dois coadjuvantes e duas testemunhas para completar o exigido pela lei.

Quando levávamos os presos de volta para a cela, percebi meu colega fazendo sinais e apontando para um dos presos.
Imediatamente lembrei dos detalhes dados pela vítima que ouvimos horas antes, do outro roubo.

Eram os mesmo detalhes.
Fotografamos os três presos.

De posse das imagens, levamos até a vítima para ver se ela reconhecia.
Bingo!

Era ele mesmo.
O reconhecimento por fotografia ficou para ser formalizado amanhã de manhã.

Quando chegamos da rua, um flagrante de tráfico esperava nosso auxílio.
Dois colegas abordaram um grupo de indivíduos na rua, a maioria menor de idade, e encontraram o entorpecente.

Todos conduzidos para a Delegacia.
Cada colega ouviu um dos detidos, para agilizar o andamento das coisas.

Saí da Delegacia por volta das 19h.
Ontem realizamos um trabalho de campo durante boa parte do dia.

De posse de uma foto de três suspeitos de estelionato, fomos de hotel em hotel na cidade para verificar se eles não haviam se hospedado na última semana.
Tudo isso em função da prisão deles em uma cidade vizinha e da suspeita de golpes aqui.

Além disso, eles não são naturais daqui.
Muito trabalho. Os dias passam rapidamente.

sábado, 23 de março de 2013

Pranto - por Marcelo Arigony

Hoje eu vou chorar. Vou me dar o luxo de chorar.

Depois de 55 dias, eu vou poder chorar.

Vou chorar pela minha prima e pelos meus tios.

Vou chorar pelos meus alunos.

Vou chorar por todos os 241 inocentes que perderam suas vidas quando só queriam se divertir.

Vou chorar pelos familiares das vítimas, que hoje têm suas casas vazias.

Vou chorar pelas pessoas próximas, que sofreram caladas comigo por 55 dias, me apoiando até este momento.

Vou chorar pelos especialistas em segurança que nos criticaram diuturnamente.

Vou chorar pelas pessoas inescrupulosas que criaram fatos depreciativos para macular minha imagem.

Vou chorar por covardes que forjaram denúncias anônimas contra minha pessoa porque nem tiveram peito de assinar por si próprios.

Vou chorar por esses que perderam dias e dias vasculhando minha vida em busca de fatos depreciativos.

Vou chorar pelos que tentaram imputar a mim gestão política de uma investigação técnica e acompanhada publicamente.

Vou chorar por pessoas nefastas com interesses políticos que me criticaram imputando exatamente a conduta espúria que pautava o seu agir.

Vou chorar por todos que tentaram eximir-se de suas responsabilidades.

Mas vou chorar também de alegria.

Vou chorar de alegria por ter conseguido dar as respostas que de mim eram esperadas.

Vou chorar também de alegria pelos grande amigos que fiz nesses dias tristes.

Vou chorar de alegria pelo reconhecimento público do nosso esforço e dedicação.

Vou chorar de alegria porque talvez nosso trabalho previna futuras tragédias.

Vou chorar de alegria porque, a partir desse fato, as pessoas passarão a ser mais responsáveis com suas atribuições.

Por fim, vou chorar porque tive tempo hoje de lembrar que também sou humano, tenho minhas falhas e fragilidades.

Vou me dar o luxo de chorar porque hoje eu desabei.

MARCELO ARIGONY - Delegado de Polícia Regional de Santa Maria

quarta-feira, 20 de março de 2013

Seis meses como Policial.

Completo, nesses dias, seis meses atuando como policial.

Não sei ao certo que dia começo a contagem.
A posse foi em no dia 19 de setembro. O exercício, dia 21 de setembro.

Na dúvida, comemorarei dia 20.
Descobri que seis meses é muito e é pouco.

Explico.
É muito tempo de afastamento dos amigos que fiz na Academia de Polícia.

Mas é pouco tempo para ter segurança total no que faço.
Hoje, logicamente, me sinto mais “polícia” do que há seis meses.

Sinto segurança em coisas que não tinha há um ou dois meses.
Percebo que a segurança, certamente, é um sentimento construído com o tempo.

Hoje leio textos que escrevi quando comecei a trabalhar e percebo que algumas coisas nem são mencionadas nos textos atuais, pois já se tornaram normais. As faço sem perceber.
Cada dia, cada semana, uma experiência nova, um cuidado a mais a ser tomado.

A cada erro, próprio ou dos outros, um aprendizado a não ser repetido.
Se não nos é permitido errar uma vez, que dirá duas.

Por vezes ainda me sinto um novato, por vezes não.
Percebo que mudei como pessoa.

Não sei se para melhor ou pior, afinal, esse tipo de julgamento é relativo.
Sei apenas que me sinto mais seguro, mais independente, mais experiente e que ainda não perdi minha indignação com injustiças.

É sabido que todos saem do sério ao deparar-se com injustiças.
Pessoas “comuns” recebem pequenas doses de indignação e o passar dos dias surge como um paliativo.

Policiais recebem doses massivas todos os dias, e o passar destes não ameniza os efeitos.
Talvez isso passe com o tempo, afinal, tudo é adaptação.

Com isso, quero dizer que hoje entendo atitudes que não entendia quando não era policial.
Isso não quer dizer que eu defenda e justifique todas elas, apenas que entendo.

Mas talvez seja essa capacidade de indignação que nos mova, dia após dia, na busca do ponto de equilíbrio do convívio social, mesmo diante de todas as adversidades.
Além da indignação, me sinto na obrigação de ser mais honesto do que era, mas educado do que era.

Acredito que temos o dever de fazer sempre o que é certo.
Por certo, leia-se legal e moralmente, sem esquecer o bom senso.

Mas todo o exposto não passa de mera suposição de um policial novato.
Mas que a experiência que há de vir, não faça com que eu esqueça isso.

Que eu possa ser sempre um aprendiz, um eterno NOVATO.


 
 

terça-feira, 19 de março de 2013

Mais bonzinhos do que nunca.

Fugindo um pouco do foco principal do Blog, compartilho um texto sobre a violência na história.



Alguém que afirme que os últimos 100 anos foram os mais pacíficos da humanidade certamente não conhece história. Não sabe dos 55 milhões de mortos da Segunda Guerra Mundial, do extermínio de 6 milhões de judeus no Holocausto e do brutal desaparecimento, entre 2003 e 2010, de pelo menos 300 mil pessoas na guerra civil de Darfur, no Sudão. Isso sem falar do terrorismo, que, apenas neste século que se inicia, já matou milhares nos Estados Unidos, na Europa e em dezenas de países da Ásia e do Oriente Médio.

Se isso tudo parece distante, ainda há a violência urbana: os moradores das grandes metrópoles se sentem crescentemente assediados por vândalos, assassinos e ladrões.

A sensação de que a violência permeia nossa vida (reforçada pelo fato de que vivemos cercados de policiais ou seguranças) desafia qualquer um a defender o pacifismo, ainda que relativo, dos últimos 100 anos.

O psicólogo canadense Steven Pinker não é tolo nem ignorante, mas se lançou à tarefa de demonstrar que o mundo nunca foi um lugar tão seguro para viver.

Professor da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Pinker é um dos acadêmicos mais festejados da atualidade e um dos autores de divulgação científica mais bem-sucedidos do mundo. Em seu novo livro, lançado na semana passada nos EUA, ele usa mais de 800 páginas para afirmar, entre outras coisas, que o banho de sangue da Segunda Guerra Mundial e a epidemia de violência atual, causada pelo crime urbano, são distúrbios estatísticos.

Em The better angels of our nature: why violence has declined (algo como Os melhores anjos da nossa natureza: por que a violência declinou), ainda sem tradução no Brasil, essas grandes tragédias são reduzidas ao status de exceções.

A noção de que o século XX foi o mais violento da história é descartada como um erro de percepção. “As estimativas que temos sobre as mortes nos séculos anteriores, quando calculadas como uma proporção da população mundial daquele período, mostram que pelo menos nove atrocidades anteriores ao século XX parecem ser bem piores que a Segunda Guerra Mundial”, diz Pinker. “Estamos falando do colapso de impérios, das invasões de tribos montadas, do tráfego de escravos e da aniquilação de povos nativos com inspiração religiosa. Nessa lista, a Primeira Guerra Mundial nem está entre os dez eventos de maior mortalidade da história.”

Pinker, um judeu canadense de 57 anos, casado pela terceira vez, é desses intelectuais que ganham fama graças a sua capacidade de traduzir, para o grande público, ideias complexas que se tornam correntes no meio acadêmico. Ele escreve espetacularmente e sabe escolher temas que desafiam verdades estabelecidas. Por isso consegue muita repercussão.

Em livros como Tábula rasa (Companhia das Letras, 2004) e Como a mente funciona (Companhia das Letras, 1998), Pinker defende, como psicólogo evolucionista, a ideia de que boa parte de nosso comportamento é herdada dos tempos das cavernas. Ele não nega a importância da vida em sociedade e da educação para moldar os costumes humanos. Mas advoga a existência, dentro de nosso cérebro, de um núcleo primitivo e instintivo que nos empurra ao reino animal – esse núcleo tem de ser vigiado e controlado permanentemente, sob o risco de incorrermos de novo na barbárie.

A racionalidade e a empatias são responsáveis por domar o animal em nós e constituem os “melhores anjos da nossa natureza” que dão título ao livro – uma imagem extraída de um discurso em que o presidente americano Abraham Lincoln (1809-1865) apelava, inutilmente, aos sentimentos pacifistas de seus concidadãos.

Para sustentar a tese de que nunca se matou tão pouco na história, Pinker muniu-se de dados que sugerem a tendência cada vez mais pacífica da humanidade. Os cálculos, na maior parte das vezes, são emprestados de outros especialistas, como do criminologista europeu Manuel Eisner.

Pesquisando em arquivos históricos, Eisner constatou que as taxas de homicídios em países da Europa têm caído século após século. Na Londres do século XIV, a cada 100 mil habitantes, 50 morriam assassinados. Hoje, a mesma estatística em Londres é de dois assassinatos por 100 mil. Na Europa como um todo, o número de mortes violentas por 100 mil varia entre um e três.

Quanto mais se volta na história da humanidade, mais impressionante se torna a comparação com o presente. O economista americano Samuel Bowles, diretor do Centro de Ciências do Comportamento do Instituto Santa Fé, procurou informações de todos os assentamentos humanos existentes há cerca de 50 mil anos, quando éramos caçadores coletores. Bowles descobriu que entre 14% e 46% das pessoas enterradas nesses lugares morreram de forma violenta.

Examinando dados como esses, Pinker conclui que, nas sociedades onde não havia um governo definido, como os povos bárbaros da Idade Média, 15% da população morria em média de forma violenta. No século XX, apesar das guerras e dos genocídios, apenas 3% da população teve o mesmo fim. “Se as guerras do século XX fossem travadas nas condições das sociedades tribais, 2 bilhões de pessoas teriam morrido, não 100 milhões”, disse Pinker durante uma de suas palestras no TED, conferência internacional que reúne pesquisadores e ativistas com ideias visionárias.

FORA DO PADRÃO

A nuvem radioativa produzida pela bomba atômica lançada pelos Estados Unidos em Nagasaki, no Japão, em 1945. Na teoria de Steven Pinker, a Segunda Guerra Mundial foi uma exceção no século mais pacífico da história.

Pinker afirma que nossa sensação de insegurança se deve a uma ilusão causada pelo funcionamento de nosso cérebro. “Estimamos a probabilidade de algo acontecer a partir da facilidade com que lembramos de casos semelhantes”, escreve Pinker. “Cenas de massacre são mais marcantes que as de pessoas morrendo de velhice. E hoje os massacres chegam até nós com enorme frequência, por causa dos meios de comunicação.”

Parte da nossa ideia distorcida da violência seria culpa do excesso de informação. Um estudo recente do professor Kalev Leetaru, da Universidade de Illinois, analisou coberturas jornalísticas entre 1945 e 2011 e concluiu que o tom das notícias hoje é mais negativo e sensacionalista do que era no passado. Os fatos destacados no noticiário seriam exceções – mas se tornam inesquecíveis e moldam a percepção do mundo que nos cerca.

A explicação para a diminuição da violência, diz Pinker, se resume à ideia de que as sociedades humanas avançaram em direção a formas de governo racionais. Quanto menos organizado um grupo humano, diz ele, maior a probabilidade de que indivíduos pratiquem atos de violência como forma de resolver conflitos. Ao abraçar essa ideia, Pinker assume-se como discípulo do filósofo britânico Thomas Hobbes.

Em seu livro de 1651, O Leviatã, Hobbes argumenta que a natureza humana é tão sombria – “o homem é o lobo do homem” – que instituições que controlem essa natureza são indispensáveis para a vida em sociedade. Em sua ausência, restariam o caos e a destruição.

Por isso, o surgimento do Estado, capaz de estabelecer normas e sistemas para regular o comportamento dos homens, seria a base da pacificação da humanidade. Em seguida, se assentariam tendências auxiliares como a urbanização, o comércio, a disseminação da cultura e, curiosamente, a extensão da empatia. Esse sentimento, que no passado ligava apenas as pessoas de uma mesma família ou de um clã, generalizou-se. Hoje, graças à leitura e à cultura, somos capazes de nos identificar com gente de outra cor e de outra religião, que vive do outro lado do planeta. A cultura ampliou o que Pinker chama de “círculos de empatia”. Eles agora podem, potencialmente, abranger o mundo todo – e ajudar a coibir o impulso da violência que ainda é parte de nós.

Embora a conclusão central de Pinker pareça incontroversa – existe uma tendência de longo prazo rumo à redução da violência –, a lógica que ele usa para chegar a ela pode ser contestada.
 
Pinker parece excessivamente voltado para o que acontece na Europa, sabidamente o lugar mais civilizado e menos violento do mundo. “A violência está aumentado em lugares como Caribe e África”, afirma o coronel José Vicente da Silva, mestre em psicologia social pela Universidade de São Paulo e secretário nacional de Segurança no governo Fernando Henrique.

Defrontado com índices de violência do século XIV em bairros negros de Detroit e Nova Orleans, nos Estados Unidos (49 homicídios por 100 mil), Pinker responde que essas áreas vivem de forma pré-hobbesiana, sem a presença civilizatória do Estado.

Um crítico poderia argumentar, com os mesmos dados, que a violência nessas cidades é parte integrante da sociedade que as produziu, onde barbárie e civilização convivem lado a lado. A diferença entre uma abordagem e a outra está no futuro que elas projetam.

Se Pinker estiver correto, a presença crescente do Estado e a ampliação dos círculos de empatia farão do mundo um lugar cada vez mais seguro e pacífico. Se ele estiver errado, o mundo civilizado, por suas próprias deficiências, continuará produzindo lugares nada civilizados, onde o homem seguirá sendo o lobo do homem.
 
 



Texto retirado de http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/10/mais-bonzinhos-do-que-nunca.html

segunda-feira, 18 de março de 2013

Homicídio no fim do sobreaviso

Ontem, enquanto eu já pensava em ir dormir e agradecia pela semana de sobreaviso tranqüila, recebi uma ligação.

Meu colega comunicava que ocorrera um homicídio.
Era exatamente meia noite.

Aprontei-me e fiquei esperando.
Fomos até a Delegacia, pegamos as informações necessárias e nos dirigimos até o local do fato.

O crime aconteceu longe do centro, próximo ao porto.
O corpo estava no chão, coberto com um lençol, devidamente isolado e guarnecido pela Brigada Militar.

Como os peritos foram acionados e viriam, não mexemos em nada.
A chegada deles demoraria, já que viriam de uma cidade distante 200 km.

Pegamos as informações já levantadas pelos colegas militares e conversamos com algumas pessoas que estavam curiosas no local.
Alguém sempre vê ou ouve alguma coisa.

Claro que é necessário filtrar muitas coisas, mas, em princípio, deve-se levar tudo em consideração, até sabermos o que realmente pode ser aproveitado.
Fui instruído a apenas fazer perguntas, colher o máximo possível de informações, para só depois convidar a pessoa a nos acompanhar até a Delegacia.

Se esse “convite” é feito no início, a pessoa pode não querer colaborar e não falar mais nada.
Logicamente podemos levá-la para a Delegacia, mas alguém contrariado pouco irá ajudar.

Resolvemos realizar buscas em algumas casas para encontrar pessoas que foram citadas pelos curiosos.
Os lugares escuros nos quais nos metemos me fez aprender a nunca mais sair sem uma lanterna.

Até pensei em levá-la quando saímos da Delegacia, mas resolvi deixar por achar que não precisaria.
Estávamos em dois Policiais Civis e dois Policiais Militares.

Andamos por diversos lugares, em vão.
Mais informações colhidas, mas ninguém encontrado.

Quando voltamos à cena do crime, uma testemunha presencial havia passado e deixado seu nome.
Imediatamente o encontramos e levamos até a Delegacia.

Nada pode ser deixado para depois.
Uma máxima policial conhecida diz que “um homicídio se resolve nas primeiras 24 horas ou não se resolve mais”.

Exageros à parte, faz sentido.
Enquanto as pessoas estão em choque, estão indignadas com o que ocorreu, falam com mais facilidade.

Se esperamos para o outro dia, as testemunhas, já de cabeça fria, temendo represálias, desencorajada por familiares e amigos, acaba omitindo o que sabe para “não se complicar e não se incomodar”.
Infelizmente é quase sempre assim.

Por isso a importância do atendimento de pronto e de qualidade.
Não se pode ter pressa, mas não se pode perder tempo.

domingo, 17 de março de 2013

Abordagem a usuário de drogas.

Estava eu, tranquilamente, nos meus afazeres cartorários.

De repente, um colega me convida para sair e realizar alguns levantamentos em pontos de tráfico.
Saímos os dois em uma viatura discreta.

Passamos por lugares conhecidos e por lugares onde, supostamente, está iniciando essa mercancia e, portanto, lugares novos.
Depois de um tempo andando, vimos um carro parado em um desses conhecidos pontos, afastado do centro.

Estava apenas o carro, sem ninguém em seu interior.
O fato de estar estacionado na contramão e os vidros abertos, induzia a pensar que o motorista não demoraria a retornar.

Imediatamente anotei a placa, para conferir mais tarde.
Não andamos nem meia quadra e o carro saiu.

Fizemos a volta no quarteirão e seguimos a distância o veículo.
Em dado momento, aparentemente, ele notou que estava sendo seguido, pois aumentou um pouco a velocidade e começou a ultrapassar outros carros.

Fizemos o mesmo, o acompanhando pro diversas quadras.
Logo, ele diminui e, abrindo para a direita, deu o lado para passarmos.

“Emparelhamos”, baixamos o vidro e mandamos ele encostar.
Ele encostou e nós estacionamos mais a frente.

Identifiquei-me, mostrando a carteira funcional.
Enquanto meu colega pedia os documentos dele e do carro, fiz a volta e olhei o interior do veículo pelo outro lado, não havia nada de anormal.

Perguntado de onde vinha, não negou, disse que tinha ido “pagar uma mão”.
Perguntado se havia comprado mais, respondeu “sim”.

Pedimos pra ver.
Ele abriu a carteira de cigarros e entregou uma trouxinha.

Ele, então, foi avisado de que seria levado até a Delegacia de Polícia para registro.
Enquanto meu colega seguia na viatura, eu sentei na carona do veículo do abordado.

Imediatamente abri o porta-luvas para ver se não havia mais nada, mas estava vazio.
Enquanto meu colega fazia o registro eu tomava o depoimento.

Esse tipo de procedimento é importante como prova material.
No registro, é mencionado onde vimos ele parado.

No depoimento, ele confirma que estava lá para comprar o entorpecente.
Não carregávamos máquina fotográfica no momento em que vimos o carro lá parado, mas um registro como esse também é muito importante.

Quanto mais coisas que deixem tudo “amarrado”, melhor.
Mais usuários que sejam abordados saindo de lá, com apreensão de droga, claro, corroboram toda a investigação e informações recebidas.

Como em muitos mandados de busca não encontramos drogas, esse tipo de investigação complementa plenamente, acredito.
Depois do depoimento, duas pessoas são chamadas para testemunharem a leitura do termo na presença de quem o deu.

Ele confirma na frente das testemunhas se foi aquilo que disse e elas assinam o termo de declarações com ele.
Dessa forma, acredito, há uma dificuldade ou quase impossibilidade de a defesa, posteriormente, derrubar o depoimento, alegando coação ou qualquer outra coisa do gênero.

Depois do registro, o usuário é liberado.

terça-feira, 12 de março de 2013

Para que serve a Polícia?

Infelizmente hoje, ao atender uma vítima, tive que ouvir esse tipo de questionamento.

E não foi por dúvida quanto à funcionalidade, foi uma crítica.
Argumentei brevemente, já que não faz parte da minha personalidade discutir com pessoas que claramente não entenderão e não saberão argumentar.

Então, no resto do dia, fiquei pensando nas tantas respostas que poderia dar.
Poderia dizer sobre como a Polícia serve pra atender todas as pessoas, até aquelas que não fazem questão de serem ajudadas.

Sim, algumas não querem ser ajudadas. Isso fica claro na falta de vontade em auxiliar, em comparecer na Delegacia para dar mais detalhes e na própria falta de crença no nosso trabalho.

Poderia dizer, também, que a Polícia serve pra seguir trabalhando, buscando os objetos subtraídos e avisar para esta mesma pessoa que me fez o questionamento que eles foram encontrados e que ela pode ir buscá-los, mesmo correndo o risco de não ouvir sequer um muito obrigado. Tavez, estejamos sujeitos a escutar uma crítica pela demora ou pela recuperação apenas parcial do bem.
Serve para erguer a cabeça e continuar trabalhando quando uma investigação desgastante e demorada é ignorada pelo Judiciário, colocando em liberdade indivíduos que não mereciam, questionando evidências e até mesmo comportamentos de agentes em qualquer situação. Tudo é questionado.

Serve para trabalhar mesmo sem os equipamentos necessários, sem bons veículos, sem uma estrutura decente, sem colegas suficientes e mesmo assim, dar o máximo de si, buscando sempre realizar um bom trabalho.
Serve para ser criticado acertando, errando ou se abstendo de agir.

Serve para, mesmo ganhando pouco, tirar dinheiro do próprio bolso para realizar um bom trabalho.
Serve para arriscar a vida todos os dias, durante vinte, trinta anos, por todas as pessoas, inclusive as que criticam a instituição.

Serve para ser chamada, mesmo em horário de folga, para atender a quem necessita.

Como dizia um professor de Academia: "Na hora do desespero, as pessoas invocam Deus e chamam a Polícia. Quando o desespero passa, elas agradecem a Deus e praguejam a Polícia".

Invariavelmente é assim.

Na cabeça de alguns, a Polícia é a grande responsável por extinguir e estirpar todas as mazelas da sociedade.

Estas pessoas se esquecem que a Polícia é apenas um braço armado do Estado onde recaem todas as responsabilidades pelas falhas das demais Instituções.
Enfim, a Polícia serve para essas e outras tantas coisas.

Para além dessas, quando precisares e não confiar na Polícia, infelizmente só resta uma alternativa: chamar o Batman!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Aprendendo com os erros

Fiz várias coisas o dia todo.

Desde pequenas coisas, até outras que me tomaram muito tempo.
Levei praticamente a manhã toda para registrar uma ocorrência sobre algumas apreensões realizadas na sexta-feira passada.

Quando chegamos ao local na sexta-feira, havia várias pessoas.
Em um primeiro momento, peguei o nome de todo mundo, depois de procedida a revista, claro.

Os outros colegas realizavam as buscas na pequena e desorganizada casa.
Eu permanecia fora da casa, vigiando os indivíduos que foram convidados a sair.

Vigiando é até um termo que diz mais do que realmente foi.
Pedi para que eles aguardassem do lado de fora, todos juntos, e permaneci ali com eles, conversando.

Foi uma busca demorada.
Em dado momento, um deles reclamou que eu os mantinha na garoa.

Então eu disse que também estava na garoa com eles e que ela nem estava tão incômoda.
Apreendemos alguns objetos.

Para responder ao Judiciário, fui fazer o registro de ocorrência hoje.
Resolvi cadastrar todos os indivíduos que lá estavam e aí percebi uma falha minha.

Como eles não possuíam documentos, peguei apenas os nomes.
Deveria pegar, ao menos, a data de nascimento também.

Quando consultamos nos sistemas policiais, um nome relativamente comum, dificulta e atrasa a procura.
Durante a tarde, um levantamento em um suicídio tentado.

Ah, esqueci de falar, estou de sobreaviso essa semana novamente.
De resto, pequenas tarefas que me tomaram o dia todo.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Reconhecimento

Recebemos pelo que fazemos, mas um pouco de reconhecimento é sempre gratificante.

Uma singela homenagem aos Agentes Políciais que trabalham na investigação do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, mas que não aparecem na mídia.

Fonte: http://www.ugeirm.com.br/imagens/noticias_imagem/foto.primeira.jpg

terça-feira, 5 de março de 2013

Mudanças

Mudanças.

Estruturais, organizacionais, físicas, pessoais.
Mas, em princípio, para melhorar e agilizar o trabalho.

Mudanças quase sempre são complicadas, mas quase sempre necessárias.
Mais pessoas trabalharão onde havia maior demanda.

Trabalhei o dia todo em função dessas mudanças, tentando me organizar.
Realizei uma oitiva apenas.

Ontem, foi um pouco mais corrido.
Pela manhã um levantamento em local de furto arrombamento.

À tarde, duas oitivas e três reconhecimentos por fotografia.
Semana passada realizamos um reconhecimentos diretos.

Como e difícil encontrar pessoas dispostas a colaborar e atuar como coadjuvantes.
Para quem não sabe, colocamos o suspeito mais quatro pessoas, preferencialmente com as mesmas características.

Claro que nem sempre isso é possível.
Cada um deles segura uma placa, um papel, com um número, de um a cinco.

O reconhecedor entra na sala, analisa e indica o número do possível reconhecido.
Há, ainda, a necessidade de suas testemunhas, acompanhando todo o procedimento.

Se houver mais de uma vítima, elas não podem manter contato depois de se submeterem ao procedimento.
Havendo contato, devem ser mudados os lugares dos participantes.

Para conseguir os coadjuvantes, vamos até o Plantão e verificamos a disponibilidade das pessoas que ali estão.
Não havendo pessoas ali, vamos para a frente da Delegacia e abordamos as pessoas que passam por ali, explicamos e pedimos auxílio.

Nem sempre somos atendidos, pelas mais diversas desculpas.
Há a possibilidade de se requisitar alguém, mas acredito que isso deve ser feito em casos extremos, onde há a real necessidade de pronto atendimento.

No caso, saímos e pedimos ajuda para alguns “chapas” (homens que trabalham descarregando cargas).
A exigência? “Sai um Coca pelo menos?”

Negar um refrigerante para alguém que irá ajudar, não é conveniente, ainda mais presumindo-se que ninguém vá de boa vontade.
Fazemos uma “vaquinha” e pagamos um refrigerante para eles depois.

Isso também faz parte.