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domingo, 17 de março de 2013

Abordagem a usuário de drogas.

Estava eu, tranquilamente, nos meus afazeres cartorários.

De repente, um colega me convida para sair e realizar alguns levantamentos em pontos de tráfico.
Saímos os dois em uma viatura discreta.

Passamos por lugares conhecidos e por lugares onde, supostamente, está iniciando essa mercancia e, portanto, lugares novos.
Depois de um tempo andando, vimos um carro parado em um desses conhecidos pontos, afastado do centro.

Estava apenas o carro, sem ninguém em seu interior.
O fato de estar estacionado na contramão e os vidros abertos, induzia a pensar que o motorista não demoraria a retornar.

Imediatamente anotei a placa, para conferir mais tarde.
Não andamos nem meia quadra e o carro saiu.

Fizemos a volta no quarteirão e seguimos a distância o veículo.
Em dado momento, aparentemente, ele notou que estava sendo seguido, pois aumentou um pouco a velocidade e começou a ultrapassar outros carros.

Fizemos o mesmo, o acompanhando pro diversas quadras.
Logo, ele diminui e, abrindo para a direita, deu o lado para passarmos.

“Emparelhamos”, baixamos o vidro e mandamos ele encostar.
Ele encostou e nós estacionamos mais a frente.

Identifiquei-me, mostrando a carteira funcional.
Enquanto meu colega pedia os documentos dele e do carro, fiz a volta e olhei o interior do veículo pelo outro lado, não havia nada de anormal.

Perguntado de onde vinha, não negou, disse que tinha ido “pagar uma mão”.
Perguntado se havia comprado mais, respondeu “sim”.

Pedimos pra ver.
Ele abriu a carteira de cigarros e entregou uma trouxinha.

Ele, então, foi avisado de que seria levado até a Delegacia de Polícia para registro.
Enquanto meu colega seguia na viatura, eu sentei na carona do veículo do abordado.

Imediatamente abri o porta-luvas para ver se não havia mais nada, mas estava vazio.
Enquanto meu colega fazia o registro eu tomava o depoimento.

Esse tipo de procedimento é importante como prova material.
No registro, é mencionado onde vimos ele parado.

No depoimento, ele confirma que estava lá para comprar o entorpecente.
Não carregávamos máquina fotográfica no momento em que vimos o carro lá parado, mas um registro como esse também é muito importante.

Quanto mais coisas que deixem tudo “amarrado”, melhor.
Mais usuários que sejam abordados saindo de lá, com apreensão de droga, claro, corroboram toda a investigação e informações recebidas.

Como em muitos mandados de busca não encontramos drogas, esse tipo de investigação complementa plenamente, acredito.
Depois do depoimento, duas pessoas são chamadas para testemunharem a leitura do termo na presença de quem o deu.

Ele confirma na frente das testemunhas se foi aquilo que disse e elas assinam o termo de declarações com ele.
Dessa forma, acredito, há uma dificuldade ou quase impossibilidade de a defesa, posteriormente, derrubar o depoimento, alegando coação ou qualquer outra coisa do gênero.

Depois do registro, o usuário é liberado.

3 comentários:

  1. Esse trabalho todo pra no final liberar o patrocionador do crime? Usuário deveria ficar anos presos. Melhor tratamento que existe para esse tipo de gente.

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  2. Luiz, da próxima vez, você avisa para o seu colega que só sairá da DP se for para prender algum traficante importante! rsrs Não desmereço os colegas que fazem esse tipo de trabalho, mas felizmente eu não preciso mais fazê-lo. Porque levar um viciado para a delegacia dificilmente terá algum resultado efetivo, nunca vi um dependente químico largar as drogas porque foi detido.

    Atualmente, no meu serviço na Polícia, como é permitido em lei, nós até deixamos de prender algum traficante importante para obter informações mais datalhadas sobre certas questões. Há dois meses, identificamos um traficante de drogas sintéticas, estabelecemos contato com ele, recrutamo-lo e ele está nos passando informações relevantes sobre seu círculo social que é do nosso interesse, logo, vamos postergar sua prisão por mais algum tempo.

    Ah, e uma dúvida: o objetivo no momento em que iam atrás do viciado era deixá-lo ciente que era vigiado? Porque se não tinham essa intenção, recomendo que treinem mais essa ação de busca - vigilância móvel -, para não falharem em outra operação. Se o objetivo é não ser descoberto, em hipótese alguma o vigiado pode sequer desconfiar que está sendo vigiado! E não existe 'tanto faz', a missão tem de ser clara.

    Papa Charlie

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    Respostas
    1. A detenção do usuário foi mera formalidade para otenção de prova material.
      Em princípio queríamos apenas ver para onde ele iria, depois resolvemos ver quem era o indivíduo.
      Então ele pareceu querer fugir, aí resolvemos abordar.

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