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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O ensaio


A ficha não havia caído até aquele momento.

Durante a semana, vi vários colegas postando e comentando quanto às expectativas da formatura. Do frio na barriga e tudo mais que um momento como esse proporciona.

Mas e eu?

Eu estava tranqüilo. Com as preocupações normais, sim, mas só.

Sexta-feira tínhamos as fotos pela manhã. Foi bom rever os amigos.

À tarde fomos para o ensaio na PUC. Só então me dei conta do que realmente estava acontecendo.

Ao ver mais de setecentas cadeiras perfiladas no palco, mil e quinhentas cadeiras (no mínimo) no auditório, mais outras tantas em um ambiente externo, a mesa das autoridades e o brasão da Polícia Civil estampado em diversos lugares, aconteceu o que deveria acontecer: a ficha caiu!

Percebi o púlpito bem a frente do palco. Não era onde eu o havia imaginado. Pensei que teria a possibilidade de olhar para os colegas enquanto discursava. Essa posição me deixaria de costas para eles e eu teria de me puxar pra que tudo saísse como eu gostaria.

Percebi o espanto de alguns ao ficarem sabendo que eu seria o orador. Até imagino o que passou pela cabeça deles, mas deixa pra lá.

O texto do discurso não foi elaborado somente por mim. Muitos colegas colaboraram. Eu apenas organizei um pouco as ideias para deixá-lo coeso e expressar o sentimento de cada um.

Não falaria apenas por mim. Não falaria pela minha turma. Falaria por vinte e uma turmas, 772 pessoas. Se colocasse apenas o que eu vi da Academia, inevitavelmente não abarcaria o sentimento comum. O auxílio de outros colegas na elaboração, com diferentes pontos de vista, faria com que cada um dos formandos se identificasse, pelo menos um pouco, com o texto.

Sim, eu queria emocioná-los!

No ensaio, fui chamado para ler o discurso e informado de que disporia de três minutos. Como assim? Ler o discurso? Três minutos? Argumentei dizendo que gostaria que fosse surpresa para todos e que haviam dito que eu teria em torno de cinco minutos.

Nosso diálogo se estendeu brevemente e, após uma breve negociação, consegui uma cópia e entreguei à pessoa que exigia conhecer o texto previamente e tudo seguiu como deveria.

Foram exigidas algumas pequenas alterações, nada estrutural.

O stress emocional apenas começava.

E ainda nem era o grande dia.

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