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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Aprendendo a lidar com as críticas.


Agora entendo quando diziam que ser policial é muito mais do que uma profissão, é um estilo de vida.

Agora entendo muita coisa que antes eu criticava e que agora me envergonho por isso.

Ser policial é muito mais do que tirar um expediente de oito horas diárias, quarenta semanais, ou um plantão de doze ou vinte e quatro horas.

Ser Policial é estar sempre a disposição.

Eu disse SEMPRE.

Se quiser entrar para a Polícia, acostume-se com isso.

Caso aconteça alguma coisa em seu horário de folga, você não poderá invocá-la para abster-se de agir.

Não importa se é um fim de semana, um horário de almoço, o aniversário do filho, ou a ida para casa depois de um exaustivo plantão de vinte e quatro horas com flagrantes e ocorrências invadindo a noite.

Você estará cansado. Exausto na verdade.

Uma noite em claro termina com qualquer um.

Ou o seu filho pequeno não te deixou dormir bem a noite.

Está pensando com como pagar todas as contas com o salário que recebe.

Seus problemas particulares e profissionais separados ou combinados, lhe perturbam a mente.

Pense em uma situação com todos esses fatores combinados ou até mesmo isoladamente.

Uma situação se apresenta de inopino e você é chamado a intervir.

É chamado a intervir diretamente, por instinto, por indignação, por obrigação ou outros tantos fatores que podem ocorrer numa hora dessas.

Nenhum dos fatores que lhe perturbavam lhe servirá de álibi.

Além da obrigação de agir, temos a obrigação de acertar. SEMPRE!

Não nos é permitido errar.

Aí, à situação apresentada não irá importar se você estava fora de forma, se estava desarmado, se estava cansado, se estava atento, se a ameaça era maior ou mais preparada que vocês.

Acredite, nada disso vai justificar uma decisão errada.

Decisão que deverá ser tomada em milésimos de segundo.

E mesmo que você não faça nada, que decida não intervir, ainda assim você será cobrado, você fará parte da cena, e poderá ser prejudicado, ferido ou morto.

Agir ou não agir em uma situação dessas, é uma decisão que caberá estritamente a você e a mais ninguém.

Mas saiba, que mesmo assim, você receberá críticas.

Leigos completos no assunto se sentirão no direito de dizer o que deveria ter sido feito ou não.

Dirão que você poderia ter feito de outra forma, que poderia ter sido mais rápido, que poderia ter se preparado mais.

Você será criticado quando acertar, quando errar, e quando se abstiver de fazer algo.

Quando estamos em desvantagem e acertamos, foi sorte.

Quando erramos, fomos precipitados, mal preparados, não usamos as técnicas, etc.

É como se não fôssemos humanos.

Os casos recentes exemplificam bem isso.

O Brigadiano que baleou um indivíduo dentro do Trensurb em Porto Alegre recebeu críticas por atirar em um local com grande concentração de pessoas.

O Policial Civil Michel Vieira, meu colega de Acadepol, foi criticado por reagir ao assalto que sofria.

O outro Brigadiano que foi baleado com a própria arma recebeu críticas pelo acontecido.

Depois do ocorrido, do conforto de suas poltronas, na frente da TV, todos sabem exatamente o que poderia ser feito.

Pessoas que não precisam nem conhecer as técnicas policiais ou o dia a dia policial pra dizer qual era a decisão correta.

E mesmo quando tudo der certo, virão outras pessoas dizer que poderia ter sido diferente.

Ainda tenho paciência pra explicar para as pessoas próximas que nem tudo é tão simples quanto parece, mas mesmo entre eles, percebo resistência em entender.

Quando vejo críticas de pessoas que não conheço, fico em um misto de indignação e revolta.

O texto do Humberto Trezzi, em minha humilde opinião, foi rebatido a altura pelo comandante do POE da Brigada Militar.

Mas nem sempre temos ferramentas suficientes para nos defendermos, ou alguém acha que a Zero Hora dará direito de resposta para tudo o que foi escrito?

E assim, essa é a verdade que fica.

E mesmo assim, nossa indignação não pode refletir no trabalho.

Temos de levantar a cabeça e continuar realizando tudo da melhor maneira possível.

Afinal, isso é ser POLÍCIA!

21 comentários:

  1. Se isso te conforta, saiba que tem gente aqui do "outro lado" que está te ouvindo e te entende. Você não está sozinho.
    Durma tranquilo amigo.

    Abraços

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  2. Luiz,

    Conheci hoje o seu blog, mas pode ter certeza que irei acompanhá-lo a partir de agora.

    Estou esperando a minha nomeação para iniciar de fato a carreira na PC, mas já sei muito bem do que você está falando. Tudo o que você escreveu resume-se em uma frase: "Não nos é permitido errar."

    A sociedade sente uma vontade enorme de julgar e criticar, transferir suas frustrações diárias e, em muitas vezes, sobra para os policiais.

    Não é uma profissão justa, somos mal pagos, sofremos riscos e mais riscos de vida, defendendo vidas de pessoas que, em muitas vezes, nem sabem que estão com a policia alí perto, disfarçada, protegendo-as. Nos arriscando para tirar das ruas bandidos que poderiam fazer muitas mães/esposas/filhos chorarem, famílias serem destruídas.

    Mas sejamos fortes e que Deus nos abençoe.

    Abraço!

    Chará PCPE

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  3. Você escreve bem e ficou legal o Blog, vou acompanhar mais daqui pra frente e estou cursando o segundo ano de Gestão em Segurança Pública. Pretendo prestar o próximo concurso e se Deus quiser realizar esse sonho de pertencer a Polícia Civil gaúcha,abraço e parabéns!

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  4. Belo texto, faz a gente pensar se realmente é isso que queremos, se estamos dispostos e preparados para assumir essa responsabilidade.

    Confesso que fiquei balançado, pensei em abandonar o concurso, ops.

    Brincadeirinha, kkkkkkk.

    Abração
    Fábio D.

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  5. Parabens Colega tu sempre emocionando a todos!! E sempre nos representando..

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  6. Tem que ter sangue de polícia nas veias!!Teu blog é muito legal.Todos os dias dou uma passada , mesmo que seja para ler e reler o mesmo texto. Eu quero ser polícia e o tyeu blog me motiva nos estudos.

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  7. Luiz, publica esse texto em todos os fóruns de concurso público da área policial, porque o que tem de gente que faz o concurso pra polícia (e acaba passando), querendo apenas um emprego e estabilidade, pensando ser mero trabalho administrativo é enorme... quem perde com isso é a sociedade. O que eu vejo de moças que mesmo tendo distintivo e acesso a armas (até esquecem isso, muitas vezes) virando secretária ou auxiliar de escritório... rsrs

    Outra coisa ruim também é o chamado 'concurseiro'. Eu acho uma falta de respeito com a organização policial. Claro que todos somos livres, mas fazer o concurso, ser aprovado e em menos de dois anos fazer outro e pedir demissão é muito ruim. É um custo que poderia ter sido evitado...

    Ah, e cansou de interagir com os que comentam em seu blog, Luiz?? rsrs

    Abraço!

    Papa Charlie

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    1. Segui o conselho Papa Charlie.
      O movimento no Blog vem aumentando.
      Obrigado.
      Abraço!

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  8. Muito legal o que escrevestes amigo, passamos por isso o tempo todo!! Estou gostando muito da atividade policial,embora desanime com algumas coisas que vejo e por dificuldades que passamos. Percebo, a cada dia, que a polícia se torna um estilo de vida como dissestes, pois se não for assim, muitos saltariam do barco. O local onde tu sentas quando entra em um restaurante, a forma atenta como te portas quando num estabelecimento, por exemplo uma lotérica...tudo isso faz tu lembrares o quanto é interessante e o quanto tu incorporastes a PC em tua vida..teu estilo..!Contextualizando. Infelizmente, podemos achar que estamos prontos sempre, mas as circunstâncias, eu diria, pregam-nos peças. Infelizmente o julgamento sempre existirá, mas sempre o julgamento póstumo em nosso caso, porque na hora em que temos de agir, estamos SOZINHOS (claro...Deus + consciência). Aprendemos algumas técnicas sim, refletimos muito antes de tudo ocorrer, várias situações, como agiria se acontecesse assim?...se o bandido abordasse por lá?...se ele estivesse de costas pra mim?...se ele estivesse com faca?....e se ele vier para cima de mim?... entre outros questionamentos. Mas, na verdade estamos sempre sozinhos com a nossa escolha ...agir ou não agir?? arriscar a nossa vida ou não arriscar?? Devemos ser prudentes, AGIR (não de forma irresponsável), mas devemos honrar as cores que defendemos, ou a farda tratando-se de militares, pois a beleza e a virtude do policial está no seu sacrifício, nessa linha em que só ele caminha, entre a vida e a morte, entre o certo e o errado, tão humilde que tem como seu objetivo fim, não preservar a sua vida,mas a vida de seu irmão(ã) que está ali na iminência de ser atingido por aquele que não dá valor a nada. Pois bem, julgamento póstumo só tem aquele que assumiu o risco da sua profissão, assumiu seu juramento como um estilo de vida, demonstrou uma coragem pouco vista e que foi abatido porque tentou garantir a segurança aqui e agora de seu semelhante... Ninguém nunca vai saber ou poderá julgar as atitudes do colega, criticas poderão existir,mas nada vai apagar a coragem do policial que tombou buscando salvar o outro!! Já dizia uma pessoa muitíssimo importante....Quem quiser ganhar a sua vida, vai perdê-la. Pois bem, conheço alguém, um nobre colega, que ganhou a sua!! Um abraço e nos encontramos amanhã!! Obs.: ótimo blog!

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  9. Luiz, ótimo texto. Eu concordo com tudo o que escreveu. Ao passar dos anos você vai se acostumando com isso. E vai aprendendo que deve ser indiferente com esses comentários de pessoas que nada têm a ver ou desconhecem o trabalho policial. A mídia não ganha audiência se falar bem da Polícia. Eles preferem mostrar bandidos como santos, injustiçados a mostrar policiais como heróis, ou pior, em uma atitude perfeita das policiais, eles acham erros que inexistem. Aí, acabam criando mais bandidos. Quem estuda criminologia sabe como funciona, pela teoria da subcultura do delinqüente, condicionantes de personalidade abúlico e mimetismo.

    A maioria das pessoas são cordeiros, não são cães pastores, não são guerreiros. Então, se sentem intimidadas com a maioria de nós, que somos altos, fortes, portamos armas (sobretudo aqui no Rio de Janeiro que é muito comum qualquer policial seja soldado PM, seja Inspetor de Políca sair para trabalhar com uma arma de guerra), aí por qualquer ação nossa adoram falar mal.

    Há alguns meses li uma reportagem a respeito daquele caso que aconteceu nos Estados Unidos, em Nova Iorque, em que várias pessoas foram baleadas por policiais mal preparados que precisavam deter um homem que acabara de matar seu ex-chefe em plena Manhattan. Então, nem as pessoas que foram alvejadas erroneamente falaram mal dos policiais, elas disseram que entendiam que os policiais estavam fazendo o seu trabalho e precisavam eliminar um ameaça para todos e elas estavam muito próximo do homem transtornado. Mas claro, pediram para que os policiais treinassem mais um pouco. rsrs Conclusão: os Estados Unidos que é um país desenvolvido e com uma cultura de arma, com a maioria do seu povo guerreira, que defende sua propriedade com armas, entende o trabalho policial e apoia seus policiais. Já aqui no Brasil....
    Adendo: os policiais de Nova Iorque erraram muitos tiros porque o prefeito que é um louco desarmamentista reduziu o período de treino com arma de fogo para que os policais treinassem mais com armamento não letal. O resultado foi desastroso!

    Mais recentemente vi uma reportagem em que em uma abordagem da PM de SP, um homem atacou um policial com uma faca e desferiu muitos golpes nele, que acabou morrendo. O outro policial da patrulha, claro, atirou contra o homem e depois colocou os dois na viatura para levá-los ao hospital. O que aconteceu? A população jogou várias pedras na viatura porque o policial atirou em um homem que matou um policial. Não dá pra entender essas pessoas!!!

    Mas também não podemos eximir a responsabilidade do governo em muitos casos. A formação inicial muitas vezes é precária e mal ensina o policial em formação como manusear sua arma de maneira segura, quanto mais utilizá-la em um momento de estresse. Por isso é importante nunca parar de fazer cursos que a Polícia oferece e, se possível, fazer outros privados também. Eu por exemplos após alguns anos de serviço me inscrevi no CAT (Curso de Ações Táticas, que é requisito mínimo para trabalhar no grupo de operações especiais) e graças a ele e a outros cursos que paguei do meu bolso consegui sair vivo de algumas situações delicadas.

    Papa Charlie

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