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sábado, 19 de janeiro de 2013

Um suicídio no sobreaviso

Estou de sobreaviso essa semana.

Sabia que hoje teria, pelo menos, três presos em flagrante para conduzir até o presídio.
Quando chegamos na Delegacia, a colega desligava o telefone.

Havia sido comunicada sobre um possível suicídio.
Era a ocorrência mais grave que eu atenderia.

Nos expedientes normais não havia me deparado nada tão grave.
No sobreaviso então, nem se fala.

Fomos até o local, onde a polícia rodoviária federal já nos aguardava.
Eles foram comunicados primeiro, em virtude da proximidade.

Entramos no meio do mato e das árvores por uma trilha.
Havia um rapaz enforcado.

Ele utilizou um lençol para seu intento.
Não havia documentos com ele, nem na mochila, atirada perto dele.

Realizado o levantamento fotográfico.
Um radialista foi até o local para colher informações e divulgar ao vivo.

O local era afastado da cidade, não havia residências muito próximas.
Mesmo assim, várias pessoas aproximavam-se a pé, de bicicleta ou outros meios.

Traziam crianças como se fossem ao circo.
Aglomeravam-se aos poucos.

Se deixássemos, ficariam em cima do corpo.
Não entendo esse gosto pela desgraça alheia.

A necessidade que sentem em ficar o mais próximo possível, pelo maior tempo possível.
Tomamos todas as providências de praxe.

Logo ele foi identificado e a família comunicada.
Era aniversário da irmã dele.

Imaginem o sentimento da família.
A vítima já possuía problemas psicológicos e, provavelmente, isso tenha influenciado.

A remoção de corpos é feita através da ligação para um 0800, cuja central fica em Porto Alegre.
Eles comunicam a funerária responsável e liberam o código de remoção do corpo.

Depois de tudo resolvido no local, hora de ir para a Delegacia registrar ocorrência e fazer o relatório das diligências.
Foi tudo mais natural do que eu imaginava.

Não tive problemas em lidar com o caso.
Pior do que trabalhar com um caso assim, foi ver como as pessoas agem em casos assim.

6 comentários:

  1. Quase não estou entrando na internet por causa dos estudos,mas sempre que entro o blog é visita certa.

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  2. Luiz, confesso que sou um pouco fraco para "sangue" e como sei que isso pode ser uma constante quando estiver atuando (dependendo da DP que eu seja lotado) me forço a ver algumas imagens pela net mesmo, tipo o corpo do Matsunaga e outras mortes estúpidas.
    Não sei se estou forçando uma barra antecipada ou me torturando à toa.
    Durante a ACADEPOL você teve alguma preparação (psicológica e imagens) para atendimentos desse tipo?

    Abraço
    Fábio D.

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  3. Que tristeza pra essa família ...

    Tenho um amigo inspetor aqui no RJ que me confidenciou que depois de um tempo essas ocorrências passam a ser vistas como "normalidade" e você age como se não fosse nada demais. Enfim, vamos esperar pra ver ...

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  4. Muito bom relato!! Infelizmente a curiosidade leva as pessoas a se aglomerarem...
    Grande abraço e cada vez o blog está melhor!!!

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  5. Realmente não faz o menor sentido ficar olhando um cadáver quando não se é perito legista ou quando não se tem um interesse justo, motivo justificável para isso. Como se diz por aí: 'muito ajuda quem não atrapalha'.

    Fábio, a questão principal não é apenas ver sangue ou ver pessoas mortas das mais diferentes maneiras. você precisa se preparar para caso precise causar isso e, claro, não pode 'congelar' na hora.

    Felizmente nunca tive problema em ver sangue, cadáveres. Eu já, inclusive, acompanhei necrópsias no IML, vi o legista abrindo o corpo todo, retirando o cérebro... Sem falar em pessoas alvejadas durante confrontos, locais de homicídio em que fui. E antes mesmo de me tornar policial, eu precisei me defender usando um canivete e acabei ferindo um sujeito, mas claro, não fiquei no local pra ser preso, só vi o sangue abundante e me mandei.. rsrs

    Ah, e falando sobre a PCERJ, agora com as UPPs, nosso estado, felizmente, está ficando cada dia mais tranquilo e as grandes operações que reuniam todas as especializadas, CORE e outras DPs, com altos confrontos estão cada vez mais difíces de acontecer. Vide a última operação em favelas da Tijuca com UPPs, apenas cumprimento mandados de prisão sem nenhum tiro e um CB PM preso por aceitar 5 mil reais pra liberar a droga que chegava a favela.

    Antes da pacificação do Jacarezinho e Manguinhos, a delegacia que mais tinha 'diversão' para seus policiais era a 21 DP, em Bonsucesso. Há alguns anos durante uma reprodução simulada da morte de uma criança alvejada em um confronto, o delegado titular acompanhou todo o trabalho portando uma AK-47 e colete. Localização péssima e com o patrulhamento pobre da PM, os delegados se viam obrigados a mandar seus agentes para as ruas para fazerem blitz, patrulhamentos... E aí, os traficantes acabavam encurralando esses policias que precisavam solicitar o apoio do SAP-CORE e só saíam de blindado, sendo alvejados por granadas. Mas agora isso acabou. E já já a região vai ganhar a `Cidade da Polícia`, na antiga fábrica da Souza Cruz, que vai receber todas as especializadas exceto de homicídios, CORE, vai ter um novo centro de Inteligência Policial. Vou trabalhar lá!

    Papa Charlie

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