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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Teoria das janelas partidas


Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia.

Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.

Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito.

 
Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e da esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.

O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre.

Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?

Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.

Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como o "vale tudo". Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores.

Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.

Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.

Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor a criminalidade) , estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.

A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: graffitis deteriorando o lugar, sujeira das estacões, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.

Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'.

A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.

A expressão 'Tolerância Zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de fato, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero.

Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.

Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na vila ou condominio onde vivemos, não só em cidades grandes.

A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.

Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.

Pense nisso!


(Via Edith Agnes Schultz)

Extraído de: 
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=309940012442056&set=a.261376240631767.39903.261004177335640&type=1&theater

4 comentários:

  1. Uma das muitas teorias da Criminologia... Bem, apesar de eu já ter estudado por um bom tempo Criminologia, sinceramente, para o trabalho de investigação na Polícia Civil acredito que essa disciplina seja uma completa perda de tempo. Nada contra as pessoas expandirem seus conhecimentos, mas a Criminologia não nos ajuda a elucidar crimes, só nos faz refletir. É o meu humilde ponto de vista. Ao contrário da Criminalística, a ciência que estuda a dinâmica do crime. Essa sim é importantíssima para o trabalho investigativo. É imprescindível termos muitas noções de Criminalística, sobretudo nas disciplinas: documentoscopia, balística forense, medicina legal, química forense e, atualmente, a que se mostra mais importante, computação forense.

    Aproveito o ensejo para compartilhar uma experência em que os conhecimentos de perícia computacional foram úteis no trabalho de investigação.

    Estava em uma diligência com outros colegas, chegando a residência alvo (com um mandado de busca e apreensão), nos deparamos com um sujeito tentando apagar os arquivos incriminatórios pela lixeira do Windows (jeito mais infantil de se fazer isso). Imediatamente, a minha primeira ação foi desligar o computador na tomada. Nenhum colega entendeu o que eu fiz, e eu precisei explicar para eles posteriormente. Lamentavelmente, o que vemos normalmente são policiais inclusive ligando o computador durante as diligências, mas o correto é deixar que apenas o Perito manuseie a máquina. Pois nunca sabemos o que está instalada nela.

    Se eu sentasse a mesa do computador e começasse a abrir os arquivos como fazemos diariamente em nossos PCs, os arquivos apagados pelo sujeito seriam sobrescritos e perdidos para sempre. Porque conforme nós vamos utilizando o Windows, arquivos do sistema vão sendo usados e ocupando os 'espaços' do HD que ficaram livres devido a exclusão dos que ocupavam esses espaços anteriormente. Até mesmo encerrar o Windows normalmente pode causar isso.

    Eu conversei com o Perito Criminal responsável pela perícia desse computador (na verdade, eles fazem a perícia em cima da cópia feita em outro HD bit a bit do HD do computador apreendido), e de fato o procedimento que eu adotei possibitou que ele recuperasse todos os arquivos intáctos. Provas documentais e periciais perfeitas!

    Papa Charlie

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  2. Luiz, ótimo texto, eu não sou da área de segurança, tenho muito o que aprender ainda a respeito de segurança pública, sei que no CFP não irei aprender tudo, mas vou pegar as diretrizes para poder estudar mais por minha conta depois. Obrigado por ajudar a nos direcionar nesse sentido com seus textos.

    Papa Charlie, eu sou formado em Processamento de Dados e trabalho com internet há 13 anos, não tenho o conhecimento de um perito, mas tenho muita intimidade com a máquina e aprendo muito rapidamente qualquer software que seja necessário manusear, será que tenho chances de cair numa área relacionada a esse tipo de investigação, como a DRCI por exemplo?

    Abraço
    Fábio D.

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  3. Com certeza, Fábio! Especializada perfeita pra você trabalhar, hein! E é exatamente isso que a corporação espera dos novos policiais: que eles agregem com alguma especialidade e conhecimento técnico (habilidades e atitudes também) que já tenham. Mas você não pode esperar que os decisores descubram isso sozinhos, você precisa dizer sua formação e o que você sabe fazer para ser aproveitado adequadamente.

    Uma dica de estudo para você, Luiz e demais policiais: uma coleção única de Criminalística no Brasil que eu recomendo (tenho todos os livros):

    http://www.millenniumeditora.com.br/produtos.asp?tipo_busca=categoria&codigo_categoria=49

    Ah, será que sua formação se encaixa nas exigências quando há concurso para Perito Criminal? Fique atento. Pode ser uma oportunidade interessante!

    Como eu falei no comentário acima: criminologia é inútil. rsrs Concentre seus estudos em: direito penal, processual penal, criminalística, técnicas e práticas de investigação, tiro, defesa pessoal policial (bem diferente de defesa pessoal para civil e artes marciais) e procure sempre manter o bom preparo físico.

    Uma conclusão do que eu comecei a escrever no outro comentário...
    Interessante para quem não conhece: comparando historicamente Criminologia e Criminalística fica claro como essa é sem dúvida mais importante que aquela. Para a maioria dos acadêmicos, o pai da Criminologia foi Cesare Lombroso. O que esse homem fez para o mundo? Criou uma teoria ridícula chamada de 'criminoso nato'. Se essa loucura não fosse descartada, caso nossos filhos nascessem com certas características elencadas por Lombroso, nossos filhos seriam presos antes mesmo de cometer algum crime.

    Já o pai da Criminalística foi Edmond Locard. Um cientista criminal brilhante para sua época que desenvolveu a teoria de troca, que é a base para toda a Criminalística atualmente e inclusive é lembrada na maioria das apostilas de formação policial. A teoria diz, resumidamente, o seguinte: todo contato deixa um vestígio, é conhecida como teoria de troca de Locard.

    Abraço!

    Papa Charlie

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  4. Boa Papa Charlie, bom saber que tenho chances, sei que dificilmente entrarei de cara, mas ao entrar para a PC já vou começar a fazer os contatos e correr atras.

    Sobre os estudos, obrigado pelas dicas, com certeza não ajudará só a mim mas a todos que queiram prestar um trabalho decente.

    Abraço
    Fábio D.

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